domingo, 30 de março de 2008

MINISTÉRIO PÚBLICO NOS BAIRROS

O Ministério Público de Pernambuco iniciou na semana passada um programa de visitas aos bairros de Petrolina. A primeira comunidade beneficiada foi o bairro João de Deus. O objetivo é ouvir as pessoas sobre seus direitos. As associações de moradores participam ativamente do projeto, convocando as pessoas e organizando o evento. Os promotores conversam com os moradores, dão palestras e exibem vídeos educativos sobre a importância da cidadania.

No final da manhã o Grupo de Teatro do Sesc apresenta um espetáculo com o tema cidadania. Iniciativa louvável que deve ser repetida muitas vezes. No Brasil, os cidadãos não desenvolveram uma cultura de se relacionar com o judiciário. Sempre houve um abismo enorme entre as comunidades e os órgãos de justiça. Atitudes como essa, deixam mais claro para os brasileiros o que significa ser cidadão. A iniciativa também aumenta a auto-estima do povo.

Projeto Pontal será Desestatizado

As equipes da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba - CODEVASF, do Banco Mundial e do International Finance Corporation - IFC, trabalharam durante três anos para incluir o Projeto Pontal no Programa Nacional de Desestatização - PND. O Pontal é o primeiro perímetro irrigado do Brasil, incluído no PND.

A privatização prevê a concessão de projetos, enquadrados no modelo de parcerias públicas privadas - PPP. Serão 25 anos de concessão. Após esse período, o empreendimento retorna ao poder público. Para o presidente da Codevasf, Orlando Cezar da Costa Castro, essa é mais um avitória dos técnicos da companhia, que tem trabalhado com uma visão de futuro para o desenvolvimento dos vales do São Francisco e Parnaíba.

Já estão sendo feitas audiências públicas para que haja a participação das comunidades beneficiadas com o projeto. Também será realizada uma consulta pública pela internet para ouvir as opiniões do setor privado. Segundo o diretor da Área de Desenvolvimento Integrado e Infr´-estrutura da Codevasf, Clementino Coelho, o modelo garante que não haverá dependência total do estado, como ocorre em outros projetos de irrigação.

O Pontal já seria concebido para ter sua emancipação garantida.O objetivo é implantar uma cadeia produtiva de valor agregado, no qual o integrador, a empresa licitada, dará garantias de compra de matéria prima, assistência técnica, fornecimento de insumos e material genético.O Projeto pontal tem uma área irrigável de 7.717 hectares com um custo de R$ 310 milhões.

Segundo a Codevasf, já foram investidos na obra R$ 216 milhões, restando R$ 94 milhões para investimentos em operações e infra-estrutura. A obra gerou 16 mil empregos.Com a privatização, muda´se totalmente o perfil dos projetos de irrigação na segunda metade da década de 1960 e de 1980. A idéia inicial era promover o desenvolvimento do Vale do São Francisco, orientando e incentivando os pequenos produtores que saíriam de um agricultura de subsistência para uma agricultura mecanizada e com maior produtividade. Além disso, o objetivo principal dos governos era melhorar o aspecto sócio-econômico das comunidades.

A expectativa agora é que o governo não esqueça a maior parcela da população que vive da agricultura hoje na região e faça uma opção apenas pelos empresários que ao lucrar com as facilidades oferecidas, como terra barata, mão de obra barata, estrutura de transporte, apoio logístico e financiamentos, nem sempre voltam a investir na região, mas fora dela. O conceito de desenvolvimento hoje mudou. Não adianta só produzir dentro de uma lógica de exportação, mas pensar no fator humano como diretriz fundamental.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Ponte que une ou separa?‏


Fui no dicionário e descobrí que a palavra ponte, designa de "pontífice" ou seja: quem "intermedia o homem a Deus". Grosso modo, a ponte da forma como conhecemos liga um ponto, ou uma margem a outra, facilitando o transporte de veículos, pessoas ou animais. Tudo isso somente para refletir sobre "a nossa ponte Presidente Eurico Gaspar Dutra" que liga Petrolina a Juazeiro. Fazer a ligação da Bahia com Pernambuco se transformou num suplício desde que essas obras começaram. Primeiro as populações das duas cidades não foram preparadas para "o caos" que se instalou depois. O início da obra foi adiado, as obras não cumpriram o cronograma planejado e os problemas se seguiram ao longo da reforma e ampliação. Pequenos acidentes são frequêntes, o desconforto é visível, trabalhadores, motoristas , motociclistas e da Polícia Rodoviária Federal, estão mais estressados com a travessia.

Imagine quem precisa atravessar a via durante 3 ou 6 vezes por dia? E tem gente que enfrenta isso para manter o trabalho. Em dias de protesto então! o "caos se instala de vez" e as duas cidades praticamente param. os reflexos impactam na economia, no bem estar e na qualidade de vida de Juazeiro e Petrolina. Alguém vai questionar e dizer: o que voçês querem afinal? Não é uma ponte bonita, mais confortável e segura? Esperavam não ser "incomodados" com o canteiro de obras? O governo está fazendo a sua parte, atendendo a um pleito antigo. É óbvio que sim, mas o que não dá para entender é essa flagrante desorganização desde o início da obra e a forma como os cidadãos que passam pela ponte estão expostos .

A impressão da maior parte da população é que não houve um planejamento eficiente que levasse em conta a complexidade social, econômica e psicológica que as obras da ponte iriam causar, num trecho de via federal estratégico. Petrolina e Juazeiro não são mais duas cidadezinhas pacatas do fim do mundo. A população aumentou significativamente nos últimos 15 anos e isso é notório. A frota de veículos também acompanhou o mesmo rítmo ou mais.Será que nada disso foi avaliado antes da obra?

Até bem pouco tempo ninguém sabia como iriam ficar os acessos para o centro e orla, principalmente do lado baiano. Não é uma questão de incompreensão ou de exigência sem sentido, mas o assunto é serio e se não foi bem esclarecido ainda, que pelo menos fique registrado para futuras obras que envolve diretamente a saúde e o bem estar das pessoas. Um outro dia ouvi da historiadora Maria Isabel Figueiredo(Bebela), uma informação que acho pertinente: deveria ter sido construída uma outra ponte, porque essa é patrimônio histórico e deveria ser preservada".

É uma obra que se constitui num patrimônio importante da região que faz a ligação do Norte e Nordeste com o Sudeste do país. A ponte Presidente Dutra, foi construída em meados da década de 1950 com tecnologia moderna, importada da França, com esforços de um parlamentar como Manoel Novais.Isso não implicaria na utilização da via. Criava-se uma politica diferenciada de tráfego para a Dutra. Diante do que vem acontecendo, não se surpreendam se as pessoas que precisam fazer essa travessia todos os dias reclamarem ao governo indenização por danos á saúde mental e física. Uma perguntinha que não quer calar: alguém sabe quando esse "calvário" termina?

Univasf abre novos cursos


Eles serão implantados até 2010 nos câmpus de Petrolina, Juazeiro e Senhor do Bonfim e São Raimundo Nonato

O reitor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), José Weber assinou em Brasília, no último dia 13 de março, o Termo de Acordos de Metas do Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Públicas Federais – Reuni, que prevê, entre outras coisas, a criação de oito novos cursos de graduação para a instituição. Estes cursos devem ser implantados entre 2009 e 2010, com oferta de 610 vagas anuais.

Em Petrolina serão incluídos os cursos de ciências farmacêuticas, ciências da atividade física e agronomia. Nos campus de Juazeiro serão implantados os cursos de artes e ciências sociais. Já em São Raimundo Nonato (PI) será o curso de história natural. A outra novidade é a implantação de uma extensão da universidade, no município de Senhor do Bonfim (BA), localizado a 120 quilômetros de Juazeiro, onde vai funcionar o curso de ciências da natureza.

O projeto priorizou a abertura de cursos noturnos. Das oito novas graduações a serem criadas, quatro serão oferecidas no turno da noite. O aluno Heberton Novais, do 5º período de enfermagem disse que a iniciativa possibilita às pessoas que trabalham durante o dia, se qualificarem. "É uma oportunidade para a população. Assim, teremos mais profissionais qualificados na região", declarou o estudante.

A Univasf foi criada em 2002, e o primeiro vestibular aconteceu em setembro de 2004, no qual foi disputadas 530 vagas entre 12 mil candidatos. Hoje a universidade oferece as graduações de medicina, enfermagem, zootecnia. arqueologia, psicologia, administração, que funcionam em Petrolina e os cursos de engenharia civil, agrícola, elétrica, mecânica e de produção, em Juazeiro.

A expansão do ensino superior no Vale do São Francisco, tanto com a implantação de uma universidade pública como de outras faculdades particulares tem possibilitado a qualificação da mão-de- obra regional, a formação científica, além de auxiliar no crescimento econômico na região. "Quanto mais cursos de graduação, melhor. Esperamos que a universidade ofereça condições para que eles funcionem bem", ressaltou o aluno de medicina, Rafael Ferreira.

Para que a Univasf atinja todas as metas do Reuni até 2012, o MEC prevê o repasse de recursos financeiros em torno de R$ 14 milhões que deverão ser investidos em infra-estrutura, construção de novas edificações e aquisição de equipamentos. Outros R$ 11 milhões deverão ser destinados ao custeio da universidade. Estão previstas também contratação de professores e de técnicos-administrativos, ampliação da assistência estudantil e capacitação pedagógica dos docentes, construção de restaurante e alojamento universitários.


Fonte: Jornal do Commercio.

domingo, 23 de março de 2008

MAIS GENTE

O IBGE confirma que a população de Petrolina e Juazeiro juntas, crescem 4% ao ano. Se a média prevalecer, o bipolo chega ao ano de 2025 com um milhão de habitantes. Para se ter uma idéia do crescimento populacional os quase 500 mil habitantes da região, representam um contingente que supera o de outras capitais brasileiras como Florianópolis, Vitória, Porto Velho, Boa Vista, Palmas, Macapá e Rio Branco. O economista Marcio Araújo que estuda o assunto revela que é preciso pensar num planejamento estratégico para as duas cidades e assim evitar que no futuro o bipolo enfrente um inchaço populacional e os seus problemas sociais característicos.
J. Menezes

CRÔNICA: UM RIO DUAS CIDADES E A DIVERSIDADE


Não chega a ser inédito, mas a proximidade entre Juazeiro e Petrolina nos remete a toda uma produção cultural contando em verso ou prosa esse "capricho do destino". Razão maior das duas cidades, o Rio São Francisco que de tão fecundo para o Brasil e em especial para os ribeirinhos de sete estados do Nordeste, chega a se transformar numa instituição sagrada. O "velho Chico" é trabalho, devoção e inspiração para os barranqueiros. O manancial "é pai e mãe de "vidas Severina e também prósperas"". Fator de integração nacional, mas também do cisma da transposição.

De um lado a cidade baiana, Juazeiro, emancipada primeiro, um flagrante do estado de espírito baiano com peculiar espontaneidade, com as ruas estreitas no centro antigo, a melancolia poética do Angarís e seus pescadores e lavadeiras que ainda resistem ao progresso, mantendo viva uma cultura muito peculiar do Século XIX, que o cantor e compositor Edésio Santos transformou em canção. Os traços vivos da navegação e da ferrovia, marcos do desenvolvimento regional do início do Século XX. Juazeiro das tradições e ousadias carnavalescas, Juazeiro que se notabilizou como "a terra dos artistas" que "pariu para o Brasil", um dos pais da "bossa nova", João Gilberto, um dos tropicalistas, o compositor Galvão, autor de um clássico internacional "preta, pretinha". Juazeiro da frivolidade, expressada no carisma de Ivete Sangallo. Juazeiro das lendas, das morenas "cachopas" de Edésio Santos.

Do outro a Petrolina que surge imponente da caatinga, no alto sertão pernambucano desbravado pelos tropeiros que tangiam tropas de mulas e manadas de gado do Ceará e Piauí para a Bahia e Sudeste. Da "Passagem do Juazeiro", nasce um vila e mais tarde uma cidade forjada pela influência da igreja católica. Petrolina das profecias de Dom Malan, da freira alemã Tereza Newmann, do Monsenhor Ângelo Sampaio e de Robert Mcnamara. Petrolina evoluiu, estética e economicamente, ganhou importância política e se transformou numa "fênix sertaneja" com um certo ar cosmopolita, sem perder as características regionais, referencia nacional da produção agrícola, centro de convergência no Vale do São Francisco. Petrolina de Geraldo Azevedo e suas cantigas, da "dama do barro", Ana das Carrancas.

Juazeiro e Petrolina são diferentes sim, cada uma com uma energia diferente, com "o seu estilo próprio" na arquitetura, no jeito de ser do povo, mas Juazeiro e Petrolina também se assemelham, no sotaque, nos dizeres populares, nos interesses comuns como a ponte Presidente Dutra, nos ambientes educacionais e culturais, na produção agrícola, a ocupação dos postos de emprego, nos relacionamentos pessoais. Há uma interdependência, flagrante no "vai e vem" das pessoas que aos poucos vai enterrando a idéia de bairrismo "tão relevante" no passado. A percepção desse caráter multicultural não é apenas de quem vive aqui, mas, sobretudo no "olhar forasteiro". Basta citar alguns exemplos de compositores, poetas, escritores e artistas plásticos que não resistiram ao encanto de uma situação que se não é atípica é instigante. Duas cidades "não separadas, mas unidas por um rio".

Duas culturas, localizadas em dois estados diferentes, seguindo caminhos distintos, noutras vezes semelhantes, entrelaçadas por tantos pontos em comuns e ao mesmo tempo tão particulares. Na década de 1940, a escritora Rachel de Queiroz esteve fazendo uma visita ao vale e escreveu um artigo mostrando o quanto encantada tinha ficado com a região, especialmente com "a beleza" de Petrolina, "redes alvas e a comida boa". Em 1973 Caetano Veloso veio participar de um festival e escreveu "o Ciúme", sucesso nacional. O compositor e cantor Jorge de Altinho escreveu "Juazeiro e Petrolina", sucesso gravado pelo Trio Nordestino, Morais Moreira gravou outro sucesso, na canção de autoria dele e de Geraldo Azevedo. As duas cidades têm uma importância indiscutível não só para a Bahia e Pernambuco, mas, sobretudo para o Brasil, como exemplos de municípios que superaram o atraso social e econômico e assim mudaram o destino, mas há ainda há muito que fazer para que as duas cidades se transformem em "ilhas de excelência".

Só acredito em desenvolvimento pleno se houver respeito aos bens imateriais. É preciso racionalizar o desenvolvimento, investir maciço na educação universal, investir em tecnologia, capacitação e criação de novos postos de trabalho, valorizar e preservar as manifestações culturais, superar o obscurantismo político, planejar e humanizar as cidades, estimular a cidadania, democratizar a comunicação, redistribuir renda e exercitar a justiça social. Penso que a frase, " O Egito é uma dádiva do Nilo", dita pelo "pai da História", Heródoto, vale também para as duas cidades. Juazeiro e Petrolina são dádivas do São Francisco.

J.Menezes

quarta-feira, 19 de março de 2008

Prefeito de Petrolina diz que medida simples vai mudar sabor da água na cidade

O prefeito Odacy Amorim determinou ao Presidente da Agência Reguladora do Município de Petrolina, Rubem Franca, um projeto em regime de urgência para resolver de uma vez por todas a questão da água salobra do Riacho Vitória, que está alterando o sabor da água consumida na cidade. O problema vem acontecendo principalmente nos períodos de chuva, quando as águas salobras do riacho deságuam no Rio São Francisco e se misturam próximo a estação de captação da Compesa. "Quando a vazão do rio está baixa, algo em torno de 1000 metros cúbicos por segundo, o efeito do sal aumenta, ao contrário de quando há aumento de vazão. Nesse caso não dá para sentir alteração no sabor da água", afirma.

Segundo Rubem Franca, o problema ocorre por causa dos barramentos feitos no riacho na segunda metade da década de 1980 pelas indústrias de beneficiamento de tomate, impossibilitando a água de seguir o seu curso natural. Para o prefeito Odacy Amorim, a construção das barragens prejudica o meio ambiente. "Impedir o escoamento natural do fluxo de água do riacho é uma agressão à natureza e se configura num crime ambiental", afirma. O prefeito explicou que o problema não é de difícil resolução."Visitei o local e chegamos a conclusão que é possível acabar de vez com o problema com medidas simples, começando pela desobstrução do manancial e construindo uma infra-estrutura adequada no local que respeite o meio ambiente, essa é uma resposta da natureza a um erro humano", afirmou.

Com a obra, o Riacho Vitória volta a seguir a trajetória natural, desaguando à jusante do local de captação da Compesa, evitando que a água do riacho se misture com a do São Francisco. A presença de propriedades agrícolas às margens do riacho preocupa a comunidade, temerosa de que as águas arrastem resíduos de produtos agrícolas ou de produtos tóxicos que podem prejudicar a saúde. Por enquanto, segundo Rubens Franca foram detectados apenas a presença de sais numa quantidade considerada normal para o consumo humano, que não oferece riscos à saúde.

Os recursos para as obras no Riacho Vitória já foram garantidos pela Compesa, após a solicitação da prefeitura. Serão investidos R$ 700 mil na obra que irá permitir o escoamento natural das águas do riacho e revitalizar a área degradada. Numa primeira etapa serão investidos R$ 200 mil na desobstrução das barragens o que, segundo Franca, já vai diminuir a concentração de sal e outros resíduos na captação. "Numa segunda etapa vamos investir R$ 500 mil nas obras de arte, como por exemplo, construção de pontilhões e canais", informou.

Rubem Franca assegurou que a Agência Reguladora já solicitou ao laboratório do SENAI, análise da água tratada pela Compesa para uma contraprova da água distribuída à população. "Nas primeiras amostras já recebidas, não foi detectado nenhum problema", explicou. O prefeito Odacy Amorim, recomendou que as obras sejam iniciadas o mais rápido possível.

terça-feira, 18 de março de 2008

ZUENIR VENTURA


"Um Brasil mais interessante do que aquele de lá". Assim o jornalista Zuenir Ventura resumiu o Vale do São Francisco e da necessidade das pessoas do sul e sudeste conhecerem mais o Brasil e sua diversidade cultural.Ele proferiu palestra no Centro de Cultura João Gilberto na semana passada. Lembrou dos velhos e malfadados estereótipos sobre o Nordeste e também se mostrou surpreso com o potencial econômico, especialmente no que concerne á produção de vinhos finos na região.O jornalista, escritor e cronista fez um resumo informal sobre a sua carreira, desde que saiu de Minas Gerais com a família para se estabelecer no estado do Rio de Janeiro e nos diversos empregos em que esteve antes de assumir de vez o jornalismo, profissão que exerce até hoje, paralela ao de escritor e cronista, segundo ele, "por acaso", como em tudo na sua vida.
Contou "causos" sobre a confusão que fazem com "o nome raro" e da aparência com personagens famosos como José Saramago e Ariano Suassuna. Lembrou do trabalho no Jornal do Brasil, dos contatos com o também jornalista e politico Carlos Lacerda, das aulas do escritor Manoel Bandeira. Fez comentários sobre a sua obra, especialmente sobre o livro "1968 o ano que não quer terminar", brincou com a memória "nem sempre generosa" e disse que gosta mesmo é de ler. Escrever, segundo o jornalista é uma tarefa árdua. "Não gosto do que escrevo", afirmou. A palestra de Zuenir é parte do projeto da TIM de incentivo a leitura. Já estiveram em Juazeiro Marina Colassanti e escritores baianos. Eles são sempre recepcionados por um escritor local que faz a mediação do debate. A próxima atração do projeto é o escritor Afonso Romano de Santanna. Num momento em que a mediocridade domina os espaços na mídia e na indústria cultural, "vomitando besteirol, suscitando preconceitos, alimentando o duplo sentido piegas, a ignorância e perturbando o espírito e os tímpanos, nada mais salutar do que a valorização de eventos como esse. Precisamos repetir a dose, libertar a mente "do lixo que nos vendem como cultura de massa" e cultivar o hábito saudável em Juazeiro e Petrolina de prestigiar eventos que tenham mais conteúdo e nos ensinem algo relevante.

Capacitação e globalização


Dezesseis representantes dos pequenos produtores de frutas do Vale do São Francisco estiveram reunidos em Petrolina para discutir o futuro da fruticultura na região. Debateram o arranjo produtivo local e a superação de barreiras para o ingresso nos mercados nacional e internacional, a identificação de novos mercados, aumento de produtividade, ampliação do número de propriedades certificadas, diversificação da produção e capacitação.

A EMBRAPA, a CODEVASF e o SEBRAE mandaram representantes. Uma das metas dos produtores é aumentar até o ano 2010 o volume de frutas comercializadas no Brasil e no exterior. Em 2007 foram exportadas 78.404 toneladas de uva e 107.812 de manga, segundo dados da VALEXPORT. Não há mais lugar no mercado globalizado para a ineficiência. A competição é acirrada e o diferencial é o aspecto qualitativo. Conquistar mercados exige, portanto competência técnica, operacional e produtos de alta qualidade. Dois novos componentes estão se tornando imprescindíveis para agregar valor aos produtos agrícolas: responsabilidade ambiental e produtos livres de pesticidas. Um outro item que não deve ser desconsiderado é a responsabilidade social. Apesar da tecnologia ter revolucionado a agricultura, são as pessoas que ainda fazem a diferença em qualquer ramo da atividade humana. Os trabalhadores precisam ser bem assistidos pelas empresas agrícolas, especialmente nas condições adequadas de trabalho e de saúde. A lógica de progresso hoje é medida também pelo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e não apenas do ponto de vista frio da produção.

13 DE MAIO


A Universidade do Estado da Bahia – UNEB vai organizar no próximo dia 13 de maio um evento denominado "Noite Negra". A idéia é discutir a situação do negro na sociedade brasileira. A comissão responsável pela organização explicou em nota, que as discussões vão girar em torno dos estereótipos voltados para os negros. Noite negra é uma provocação à cultura do preconceito no Brasil. É uma oportunidade para refletir e desmistificar esses estereótipos. A Lei de Diretrizes e Bases – LDB no seu artigo 10639/03 que trata da obrigatoriedade do ensino da áfrica e da presença do negro na formação da sociedade brasileira também estará em pauta. A propósito o presidente Lula voltou a falar sobre a questão racial no Brasil ao participar da solenidade de formatura dos estudantes da UNIPALMARES no Ibirapuera em São Paulo, a primeira universidade para afrodescendentes do Brasil. Lula disse que os alunos da UNIPALMARES mostram que os negros estão nos bancos das universidades e exercendo profissões como medicina, o que não se via em décadas passadas. "Lembro o esforço que fiz para encontrar um negro para levar para a Suprema Corte deste país". Ele se referia ao Ministro Joaquim Barbosa.
O presidente também afirmou que normalmente quando a televisão mostra um negro na televisão é sendo preso pela polícia. "Existem outras coisas que o negro faz, que o pobre faz e que muitas vezes não tem espaço necessário", sentenciou. É preciso ampliar os espaços de debates em torno de uma pauta cotidiana que é o respeito à diversidade. Desde os estudos de Gilberto Freire e sua "democracia racial", fala-se muito sobre o processo de miscigenação do país. Darcy Ribeiro também insistiu com o seu "Brasil Caboclo", mas na prática, há pouco progresso e muita sutileza na discriminação. O Brasil continua sem reconhecer verdadeiramente a força da miscigenação do seu povo e "negra" continua sendo a cor da "negação no país". Não é questão de se sentir vítima, mas há uma dívida com o negro que ainda não foi paga. É fato: um médico branco por exemplo no Brasil, ganha três vezes mais que um negro com a mesma formação.

FEIJÃO MARAVILHA


"Bota água no feijão que chegou mais um". O trecho do samba brasileiro nunca esteve tão atual. Com o preço elevado ficou mais complicado fazer feijoada ou outros pratos típicos. O grão símbolo da alimentação brasileira está se tornando um artigo de luxo. O consumidor brasileiro está sendo obrigado a desembolsar, entre R$ 4,50 a 6,00 para comprar um quilo de feijão carioca. No Vale do São Francisco "os desavisados de plantão", achavam que com as chuvas os preços iriam cair, mas não estamos mais naquela realidade de 15 ou 20 anos atrás quando o feijão era cultivado, não só nas áreas de sequeiro como também nas irrigadas. O custo de produção e o aumento de pragas desanimaram os pequenos produtores. A região de Irecê que era considerada um "termômetro" do produto para o Nordeste, também reduziu a área de plantio. Em 2006 era possível comprar um quilo de feijão carioca por R$ 2,99, em maio de 2007 o preço caiu para R$ 1,96. Em novembro de 2007 o preço subiu para R$ 3,25. Segundo a CONAB – Central Nacional de Abastecimento, questões como estiagem em regiões produtoras no segundo semestre de 2007, o aumento do consumo no país podem ter influenciado no preço, mas descarta que terras usadas para o plantio do grão tenham sido destinadas à produção de cana, reduzindo a oferta como foi especulado na mídia. Outra questão descartada seria "o ganho extraordinário dos produtores" em detrimento dos preços elevados. A CONAB já anunciou que a colheita 2007/2008 será inferior a safra de 2006/2007. Isso significa que dificilmente os preços podem cair. Diante da situação como fica a população de baixa renda que tem no feijão um produto básico da alimentação? Assim nunca mais as frenéticas vão poder cantar: "dez entre dez brasileiros preferem feijão".

SALOBRA




Apesar das seguidas explicações da COMPESA sobre os investimentos e da qualidade da água em Petrolina, a população continua reclamando do sabor. Na última quarta feira um representante da companhia esteve na câmara municipal para "repetir o que os outros gestores já haviam dito" e foi duramente rechaçado pelos vereadores. O vereador Chico Freire chegou a afirmar que a "COMPESA estava colocando uma corda no pescoço dos petrolinenses". Nem o gesto do diretor "compesiano” (que dispensou a água mineral posta na mesa da câmara, para beber a água do São Francisco", convenceu os edis). Em entrevista na última quinta feira, o prefeito Odacy Amorim fez uma declaração séria: pequenas barragens no Riacho Vitória estão impedindo a passagem da água do manancial que acabam se misturando com a captada pela rede da COMPESA, deixando a água com teor de sal.Odacy se comprometeu a resolver o problema. Para o prefeito a situação se configura como um crime ambiental, já que há um impedimento para o escoamento natural das águas do Riacho. Nunca foi bem explicado pela COMPESA a falta de uma política de água diferenciada para Petrolina. Ora o maior manancial de água doce administrado pela companhia "passa praticamente na calçada dos moradores". Porque o serviço é tão contestado pela população? Petrolina não é mais uma cidadezinha pacata do interior, é uma das cidades mais importantes do Nordeste, pelo potencial econômico e influência política. Os serviços básicos precisam ser feitos com absoluta competência.

BRIC BRASIL

O anúncio de que o Brasil cresceu 5,4% em 2007 soou positivamente nos mercados internacionais e apesar da cautela orientada pelo presidente Lula, o governo comemorou. É louvável a celebração, já que o país experimenta uma estabilidade sui generis se comparada por exemplo aos tempos de inflação alta de dívida externa crescente e da falta de credibilidade no exterior. O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão Paulo Bernardo ressaltou que o País poderá crescer mais nos próximos anos, com "menos gargalos" e "pressões inflacionárias". "Nós estamos com investimentos, aumentando nosso PIB potencial e podemos crescer mais nos próximos anos", disse Bernardo. No quesito BRIC(Brasil, Rússia, Índia e China), sigla criada pelos economistas da Godman Sachs, consultora norte-americana para identificar os blocos dos novos gigantes da economia mundial. O Brasil ainda não cresceu no mesmo ritmo da China por exemplo, mas o país tem a melhor performance econômica de sua história. O Jornal britânico The Guardian afirmou na semana passada que o gigante da América do Sul e começa a demonstrar que não é apenas o país do futebol e do carnaval: " o crescimento é equilibrado e o país estaria menos vulnerável hoje. "Analistas concordam que a forte demanda doméstica, a estabilidade financeira e exportações bem distribuídas internacionalmente oferecem alguma proteção contra o desaquecimento americano. Quando o mundo pega uma gripe, o Brasil não mais pega uma pneumonia, afirma. O The Guardian ainda aponta os contrastes que marcam o Brasil: o país também exporta carros e aviões, notadamente aviões executivos e de passageiros da Embraer, mas afirma que apesar do crescimento, o país ainda enfrenta vastos problemas sociais e ambientais. Críticos ouvidos pelo jornal ainda dizem que o crescimento do Brasil impressiona, mas é vazio, "como um carro alegórico de carnaval, porque se apoia em condições globais benignas e no crescimento do crédito doméstico enquanto foge à difícil tarefa de construir uma economia competitiva". O "Guardian" conclui comentando que o Brasil era conhecido como o País do futuro. "O futuro ainda não chegou, mas está mais perto agora do que já esteve em várias gerações." O estudo da Godman Sachs prevê que a economia do Brasil ultrapassa a da Itália em 2025, a da França em 2031 e a do Reino Unido em 2036. É esperar para ver.

domingo, 16 de março de 2008

A VIA CRUCIS NA CAIXA



O leitor pode estranhar o título, mas foi assim que me senti numa fila da Caixa Econômica Federal, agência de Juazeiro. Na última quinta feira, precisei resolver alguns problemas bancários e procurei a agencia para resolver. Cheguei por volta das 12h05min e claro, como é praxe procurei abastecer-me de uma dose generosa de paciência para suportar a espera na fila. Fui informado por um homem que disse já ser "rato de fila" na caixa que naquele dia estava tudo bem, não tinha tanta gente como na segunda ou sexta quando os clientes e não clientes pagam à metade dos pecados, plantados a espera de atendimento. É uma verdadeira via crucis

Acreditei na informação e procurei de imediato "acender o alerta anti-stress". Fui informado na recepção que para o meu tipo de procedimento era necessário pegar uma ficha e logo a seguir pegar a fila. Assim fiz, seguindo a risca a orientação peguei a de número 157. Ora, sou conhecedor que a Caixa implantou um serviço de marcação antecipada, justamente para evitar excesso de lotação e organizar o serviço. Não fui orientado, mas não sei até o momento porque me deram aquela ficha se eu tinha que pegar a fila do mesmo jeito e esperar a minha vez chegar para finalmente ser atendido.

Confesso que em nenhum momento ouvi a chamada anunciando a minha vez. Senti a minha inteligência e das outras pessoas que estavam na fila subestimadas. Mas paciência vai esperar. De antemão vou logo esclarecendo sem falsa modéstia sempre procuro respeitar a fila, não tenho vocação para "furão". Do lado direito do local onde eu estava tinham dois caixas atendendo a uma fila sempre pequena de idosos, gestantes, lactantes e portadores de deficiência, nada mais do que justo. Bom, entro na fila com a expectativa otimista de sair de lá pelos menos ás 13h30min e assim poder cumprir com os meus outros compromissos do dia. "Uma hora e meia na fila acho que é mais do que razoável" .


Mas aí as horas foram passando, 12h30min, 13h00min, 13h30min, e a fila quase não andava. As reclamações começaram, mas ficavam apenas num lamento repetido e acomodado como acontece em todo o país. Como já havia ficado uma hora na fila, tinha me deslocado direto do trabalho e sem almoçar fui direto para o banco, resolvi sentar um pouco. Tive sorte porque ainda haviam algumas cadeiras vagas nesse momento. Fiquei mais de 40 minutos sentado, enquanto isso resolvi fazer algumas anotações e a fila continuava lá, impassível, teimosa, inerte. Parecia uma ironia em forma de fila.

Quando entrei pela primeira vez deveriam ter mais ou menos umas 35 pessoas, ás 13h00min restava umas 25 e ás 14h30min quando saí da agencia, deveriam ter umas 12 pessoas na fila onde eu estava. Só que a cada minuto que passava, eu sentia a angústia e o desespero nas pessoas. Pálidos, esmorecidos, chateados, suspirando, impacientes, impotentes, como se estivessem diante de um pelotão de fuzilamento. Os caixas, alheios ao que ocorria ali, até porque também impotentes nada podem fazer e até já estão "calejados" com as lamurias do povo. Os estagiários e atendentes aparecem vez por outra tentando organizar a fila numa atitude educada, mas que não resolve.

E é justamente ai que está o "X da questão" quando todo mundo começa a achar que tudo é normal, "que é assim mesmo", que o povo que "se dane", vivemos no Brasil, país do jeitinho, da cultura da razão cínica, da "lei de Gerson". Esse tipo de mau atendimento abre precedentes perigosos para que atitudes de paternalismo ou clientelismo sejam praticados e se transformem numa referencia nacional. Sabe aquela cena do "bacana" ou da madame, chegando sorrateiros e arrogantes e recebidos com tapete vermelho? Seria leviano se dissesse que vi essa cena na Caixa, não vi, abro um parêntesis aqui apenas para esclarecer que somos sabedores que "os pistolões" e as fórmulas mágicas do cortejo e dos privilégios aos influentes acontecem a toda hora nas instituições.

No Brasil, impera ainda a máxima de que "não importam os meios para se chegar a um fim". Continuamos "nivelando tudo por baixo" com esse péssimo costume. É uma cultura miserável, viciada na troca de favores, no tráfico de influência e na individualidade, a tese da "farinha pouca, meu pirão primeiro". Os minutos continuaram passando. As 14h00min horas voltaram para a fila e não vi progresso. Ainda tinha esperanças de que ás 14h30min pudesse estar pelo menos no caixa, enganei-me, faltavam ainda cerca de doze pessoas para serem atendidas. Não suportei, fiz o meu protesto pacífico e equilibrado e saí da fila porque já estava "mareado" de tanto esperar em pé. Ás 14h40min deixei a agência sem resolver minhas demandas bancárias. É abusar demais da paciência das pessoas, ser indiferente as suas necessidades.

Diante dessa situação, fico me perguntando que lógica estapafúrdia é essa que anunciada em alto e bom som que os bancos obtêm lucros astronômicos todos os anos, batendo recorde em cima de recorde e os serviços continuam tão ruins a ponto de se promover um massacre à paciência do povo, estressado e cansado nas filas. Essa lógica é contraditória, autoritária e desleal com o exercício da cidadania. O que está faltando para que os bancos invistam mais em atendimento e conforto para os cidadãos? Dinheiro é óbvio que não é, porque se assim fosse os meios de comunicação não agendariam a pauta anual sobre os altos lucros nos bancos brasileiros. Onde está a tal de responsabilidade social dos bancos? Falta também a fiscalização diuturna dos poderes constituídos para acabar com os abusos.

Já ouvi dizer que o sistema bancário do Brasil é um dos mais eficientes do mundo, pergunto: para quem? É uma tortura que lei nenhuma consegue resolver. O banco do governo federal que deveria dar o exemplo é o primeiro a explorar a paciência e a boa fé do povo. O que mais me deixou revoltado foi o fato da instituição ignorar que naquela fila poderia ter alguém com algum problema de saúde sério que não poderia ficar em pé tanto tempo e ser indiferente ao sofrimento e aos compromissos alheios. Esse tipo de desrespeito não pode ficar impune. É uma ofensa ao cidadão que paga imposto alto e contribui com a saúde financeira das instituições bancárias.

Esse não é só um problema da Caixa, hoje se você quiser resolver um problema nos bancos privados, precisa ficar tentando encontrar um funcionário que esteja em condições de te dar uma resposta atenciosa, mesmo esbaforidos e sobrecarregados pela correria, alguns até se esforçam, mas não é fácil. Definitivamente, o cidadão virou refém dos bancos e escravo do sistema financeiro que só enxerga a sua frente uma coisa óbvia: cifrões. Os cidadãos como sempre, ficam em segundo plano, ignorados pela ganância. Lamentável.

TÁ NA MÍDIA

Transmissões esportivas

Um ponto polêmico incluído pelo relator, deputado Walter Pinheiro (PT-BA), é a obrigatoriedade de repassar gratuitamente à TV Brasil o sinal de competições oficiais em que um atleta brasileiro estiver participando, caso a transmissão não seja feita por canais abertos. Segundo Pinheiro, as empresas firmam contratos de exclusividade com comitês esportivos, mas transmitem os eventos só por TV por assinatura.

Ainda pelo texto aprovado, se emissora privada não estiver gerando o sinal, deve autorizar a TV Brasil a gerar a transmissão. Os canais da EBC também serão distribuídos gratuitamente pelas TVs por assinatura.

Também foram mantidas a Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública como fonte extra de recursos, o caráter simplificado para compra de bens e contratação de serviços e as contratações excepcionais, algumas sem licitação, para áreas artística, audiovisual e jornalística, seguindo parâmetros do conselho de administração.

A MP será ainda analisada no Senado.


Fonte - Site do Comunique-se

POESIA E "CAUSOS"



Vou vortá bem satisfeito,
A viagem não perdí
E vou falá com respeito
Sobre uma coisa que eu ví,
Eu nunca gostei do enredo
Mas vou contar um segredo
E sei que o povo combina,
Existe aqui um pobrema
Sobre este amoroso tema
Juazêro e Petrolina

É coisa bastante certa
Que com relação ao amô
Só faz grande descoberta
Quem é bom pesquisadô;
Vocês quera descurpá,
Mas o bardo populá
Patativa do Assaré
Vai já falá pra vocês
De uma coisa que tarvez
Ninguém tenha dado fé.

Aqui na bêra do rio
Tem uma dô que consome,
Vejo a verdade e confio
Ví que o Juazêro é home
E Petrolina é muiê.
Ví que o Juazêro qué
Com Petrolina casá,
Porém corre um grande risco,
As águas do São Francisco
Não deixa os dois se abraça.

Tem um riso feiticêro
A linda pernambucana
E gosta do Juazêro
Moço da terra baiana,
Vejo tudo e tô ciênte
Que o que ele sente e ela sente
Mas esperança não tem
De satisfazê o desejo
Apenas envia beijo
Pela brisa que vai e vem.

Juazêro vai passando
Com a arma apaixonada
Do outro lado reparando
Para sua namorada
E Petrolina conhece
E a mesma paixão padece
O namoro não esconde
Lá do outro lado do rio
Juazêro da picio
E Petrolina responde.

Que seja seca ou inverno
Nesta terra nordestina,
Tem sempre um amô eterno
Juazêro e Petrolina
Sei que é firme esse namoro,
Porém existe um agôro,
Um azá, um aperreio,
Ele do lado de lá,
Ela do lado de cá
E o rio a roncá no meio.

Juazêro e Petrolina
De amô vive ardendo em brasa
Pois é muito triste a sina
De quem namora e não casa,
Quando o rio dá enchente,
Mas os namorado sente,
Um de lá, outro de cá
Cada qual faz sua quêxa
Cronta o rio que não dêxa
O sonho realizá.

Juazêro esse baiano
Moço, forte e destemido
De realizá seu prano
Já veve desiludido
Com a arma apaixonada
Óia para a namorada
Mas é grande o sofrimento
Pois não pode sê isposo
Devido o rio orguioso
Impatá o casamento.

Inquanto descê nas água
bascuio, barcêro e cisco
Causando paixão e mágua
Este rio São Francisco
Capricho da natureza,
Com a sua correnteza
Neste baruio maluco
Toda noite e todo dia
Não será sogra a Bahia
E nem o sogro o Pernambuco.

Se oiando de face a face
Petrolina o seu querido
Não pode fazê o inlace
Pruqê o rio intrometido
Do seu leito nunca sai,
É um suspiro que vai
E outro suspiro que vem
E nesta sentença crua
O namoro continua
Por século sem fim amem.


Essa poesia é do Patativa do Assaré.

Foi recitada pelo autor por ocasião do Segundo Festival de Violeiros de Petrolina.