domingo, 25 de abril de 2010

Flamengo e Corinthians duelo de titãs

A nova fase da Copa Libertadores terá como maior atração inicial o confronto entre os clubes de maior torcida no Brasil. De um lado o Corinthians, melhor brasileiro na primeira fase da competição, do outro o Flamengo, pior brasileiro até aqui. Mas, em se tratando de clássico, tudo pode acontecer. A crise no Flamengo com a saída de Andrade e sua comissão técnica pode se reverter e se transformar num estímulo a mais, já que o time está devendo boas atuações. Nada mais estimulante do que enfrentar o Timão que se reforçou para tentar conquistar um título inédito para as suas cores.

E os atrativos são muitos. Ronaldo no alvirrubro e Adriano no rubro negro. Gordinhos? Em má fase? Não nos iludamos, são diferenciados e podem mudar a história de um jogo e de uma competição.No momento o Corinthians vive uma situação mais estável e justamente por esse motivo pese sobre o clube paulista uma responsabilidade maior. Tem um técnico experiente e metódico que já conquistou títulos e apesar do “desmanche” do ano passado conseguiu encontrar um novo time com as chegadas do Roberto Carlos e Danilo. Roberto Carlos está "voando", literalmente. Não seria nenhum exagero se Dunga, refletisse melhor sobre a lateral esquerda. Roberto está em forma e nos últimos jogos do paulistão e da Libertadores provou isso. Os dois podem lucrar com isso, Dunga ganha um lateral experiente e em ótima fase e o jogador tem a chance de se redimir do fiasco de 2006 na copa da Alemanha.

Não é só a parte física que está a favor de Roberto Carlos, tecnicamente ele está muito bem. Marca com competência, apoia com desenvoltura e é uma arma perigosa pelo lado esquerdo com chutes certeiros, arranques, assistências e cruzamentos para os companheiros. Juscilei e Elias no meio dão equilíbrio e na frente, Dentinho voltou a jogar como em 2008. A situação do Corinthians é tranqüila pelo menos até o primeiro jogo do mata-mata contra o Flamengo.

O rubro negro pode "renascer das cinzas" e embalar como já fez em vários momentos em sua história. O Flamengo gosta de situações adversas. É só lembrar do que ocorreu no último Campeonato Brasileiro. Na metade da competição parecia não haver mais chances de título na competição e o time foi conquistando ponto a ponto até triunfar como o campeão de 2009. Na libertadores e no Campeonato Carioca, o mengão vinha falhando constantemente na defesa, mesmo jogando com três volantes.

A equipe comete falhas de marcação. Na frente, Adriano está apático e não é nem sombra do que se espera dele. Wagner Love teve boas e ótimas atuações nas duas competições (Carioca e Libertadores). Rogério Lourenço, ex-jogador do clube e campeão brasileiro na década de 90 que estava atuando como auxiliar de Andrade, disse que irá fazer alguns testes antes do jogo contra o Corinthians. Ele não tem mais tempo, terá que ser decisivo e rápido para encontrar uma maneira mais segura do time jogar. O novo técnico vai precisar dar o equilíbrio que estava faltando ao time.

Lourenço vai precisar “quebrar a cabeça” para encontrar uma equipe mais coesa, melhor definida em campo e motivada. Em momentos de crise é necessário muita coerência e bom senso e geralmente os técnicos optam por montar primeiro a defesa de uma forma que o resto do time vá adquirindo maior equilíbrio e confiança nos outros espaços do campo. Exemplo: Ele pode reforçar a marcação do lado direito escalando Toró na posição. Mantém a dupla de zaga com Álvaro (se puder jogar). Organizando a defesa.

A formação pode não agradar a torcida e a crônica esportiva, mas terá que usar até de improvisações. Um zagueiro pelo lado esquerdo como fazem os clubes europeus, especialmente os italianos. Fabrício poderia ser essa opção. O volante William poderia retornar a cabeça de área como um volante de contenção, já que possui energia e força, mas na formação de Andrade vinha errando muitos passes e lançamentos, embora se destaque nos desarmes não tem visão de jogo. Não é um jogador para atuar de meia. Maldonado que tem um passe melhor poderia fazer o papel do segundo volante, jogando um pouco mais avançado pelo lado direito.

Muita gente pode estar estranhando isso, mas Juan não está inspirado, não consegue acertar passes, dribles, cruzamentos nem tampouco na marcação. Ele precisa recuperar a técnica. Léo Moura, a meu ver o melhor jogador do Flamengo na Libertadores faria o papel de meia ofensivo pelo lado direito. Poderia faze ruma boa dupla com o Toró, tentar chutes de meia distância de fora da área e chegar de trás como opção para os homens de frente. Petkovic retornaria a meia, organizando as jogadas no meio e distribuindo para os homens de frente. Nas bolas paradas seria fundamental.

Mesmo com os problemas físicos, Pet pode compensar essa fragilidade com o toque de classe. Os dois homens de frente que devem ser Adriano e Love precisam ser “menos óbvios”, se movimentando mais e fazendo o que sabem gols. Na balança, o Flamengo pode se dar bem, pois a essa altura "está no lucro" e tem muito mais a ganhar do que perder. Mas o Corinthians é o time que mescla a categoria da experiência com a força da juventude. Um jogo que vai dar o que falar. A paixão das torcidas e a tradição das camisas bastam como ingredientes desse prato especial. Não será apenas um jogo, mas um duelo de titãs do futebol brasileiro e mundial.

J.Menezes

sábado, 24 de abril de 2010

Jornalistas comemoram saída de Gilmar Mendes da Presidência do Supremo

Uma manifestação organizada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, em frente à sede da TV Globo, na zona sul de São Paulo, comemorou ontem a saída do ministro Gilmar Mendes da presidência do Supremo Tribunal Federal (STF).

Com a frase “Já vai tarde” estampada em manifestos e em um dos cartazes colocados em frente à Globo, o sindicato criticou a atuação do ministro na condução do Supremo e protestou contra a decisão da Corte de ter acabado, no ano passado, com o fim da exigência de diploma de ensino superior para a profissão de jornalista, proposta da qual Mendes foi relator.

Segundo o presidente do sindicato, José Augusto Camargo, o fim da exigência de diploma para jornalistas trouxe “uma grande confusão”. “Passado um ano, o Ministério do Trabalho e Emprego não sabe exatamente como conceder o registro para as pessoas.” Para tentar reverter essa situação, duas propostas de emendas constitucionais sobre o exercício da profissão de jornalista, que tratam também sobre a exigência do diploma foram enviadas no ano passado ao Congresso Nacional. A notícia foi publicada na Agência Brasil.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A cidadania de olho na economia

A campanha da Fraternidade de 2010 toca numa questão preponderante. Afinal de contas para que serve a economia na sociedade capitalista? A chamada economia doméstica ou uma economia que também leve em conta as necessidade das minorias é pouco disseminada na mídia. Na visão tradicional capitalista a economia está muito mais ligada ao mercado e suas leis.

Mas o mercado só existe por causa dos consumidores e nesse aspecto pode se falar hoje de uma economia que influencia as massas, a classe média alta e as elites. Todos consomem e não há pelo menos numa visão imediata nenhum mal em adquirir bens de consumo, inclusive os duráveis, afinal, ter conforto se constitui numa necessidade que todos têm o direito de usufruir. A economia de mercado está focada na produção, nos meios de produção, no estímulo ao consumo, no acúmulo de riqueza e no lucro, nada mais óbvio e há uma sensação clara de que as pessoas agora podem adquirir produtos de consumo durável, ter cartão de crédito, cheque especial e etc.

Nem mesmo a crise do ano passado conseguiu inibir a capacidade e o poder de compra dos brasileiros. Os bancos também “não economizaram” na oferta de créditos. Os lucros anuais dos bancos mostram que “vender dinheiro é um negócio mais que lucrativo”. Todos os anos a briga é para saber quem superou quem nos lucros e a quantidade de zeros que aumentaram nas cifras. Nunca houve tanto crédito no país, mas a questão não está na facilidade de contrair o crédito, mas de pagar os juros absurdos do mercado.

Os bancos lucram e o consumidor deve cada vez mais. Apesar das previsões nem sempre animadoras e o governo injetou dinheiro e criou outros incentivos como a isenção do IPI para o mercado de automóveis e o de eletrodomésticos. No caso do Brasil, há um aumento flagrante de consumo pelas classes “C, D e, como resultado dos programas sociais e de uma maior estabilização na oferta de empregos”.
A propagação dos produtos pela indústria cultural incrementou ainda mais os mercados globais.

É que a globalização aproximou os mercados produtores dos consumidores. Nunca houve tanto crédito no país, mas a questão não está na facilidade de contrair o crédito, mas de pagar os juros absurdos do mercado. O consumo é inevitável, mas como diz o ditado, "é preciso consumir com moderação" e evitar os vícios do “mundo maravilhoso das compras”que podem não ter mais cura. O resultado é a bancarrota financeira no final do mês. Mas o mercado cria também uma dependência perigosa nos consumidores. Consumo maior, implica também dívida, incapacidade de poder de compra e impossibilidade de crédito.

A Campanha da Fraternidade chama a atenção para questões que até agora haviam sido ignoradas e por motivos compreensíveis. O mercado não pensa em outra coisa a não ser vender e essa é a sua natureza da mercantilização. Um ponto que acho crucial é o fato de que nem todo mundo pode manter um nível de consumo constante se não tiver renda, controle e estabilidade financeira suficiente para comprar. O problema é que a sensação que a mídia dissemina através de poderosas campanhas de marketing é que todos podem consumir à vontade e sem limites. O resultado disso é uma frustração nos consumidores menos avisados ou viciados no consumo que posteriormente às compras não tem como honrar os débitos e entra numa bola de neve.

A Campanha se bem disseminada e compreendida pode suscitar um debate nacional que alerte e ensine as pessoas a consumir com responsabilidade. Vejamos os lucros dos bancos. Todos os anos é recorde em cima de recorde. Nunca houve tanto crédito no país, mas a questão não está na facilidade de contrair o crédito, mas de pagar os juros absurdos do mercado. Os bancos lucram e o consumidor deve cada vez mais.
O consumo é inevitável, mas como diz o ditado, "é preciso consumir com moderação”! e vícios que podem não ter mais cura. A História mostra desde os tempos de Adam Smith, que a concentração de riquezas nas mãos de poucos, é uma tendência secular que as teses filosóficas, estudos sociológicos e formas de governo não conseguiram evitar.

Os liberais pressionaram e insistiram tanto na idéia de um mercado totalmente livre que o Estado quase ficou sem função ou refém do pensamento liberal. Hoje é perceptível a necessária presença do Estado para regular a economia e impor certos limites que são essenciais para a proteção dos cidadãos. Até hoje, uma sociedade de livre mercado não foi capaz de promover ou de cumprir com as promessas de uma convivência justa.

As teses que ampliaram o poder da lógica capitalista receberam ajustes, mas não mudaram muito em sua essência desde os séculos XVIII e XIX com o “boom” da Revolução Industrial e com a distribuição de produtos nos mercados europeu, asiático e na América do Sul. "Deixe fazer, deixe passar”, eis as palavras de ordem que até hoje desafiam as relações entre os detentores dos capitais e o Estado que estuda uma nova forma de “frear” a ação via de regra ousada e descontrolada do capitalismo.
O crescimento da economia de um país é um fato animador, especialmente quando isso representa oferta de mais emprego e renda e arrecadação para o Estado investir em projetos sociais que melhorem a vida da população. Mas crescimento por crescimento sem justiça social e com o aumento do abismo entre ricos e pobres é algo ilusório e perverso. É necessário, pois muita cautela para não ficar refém dos bancos e dos hipermercados. Creio que a CNBB foi muito feliz na escolha do tema.

As gestões responsáveis dos governos em todos os níveis, a diligência do sistema judiciário, os investimentos na educação e o despertar para a cidadania, podem ser preponderantes para um consumo responsável, afinal, dizer que as leis da economia vão mudar o mundo é algo distante da realidade, especialmente por conta dos aspectos já enumerados aqui. Mas na medida em que as sociedades vão se conscientizando do valor da cidadania, mesmo que lentamente as coisas tendem a evoluir e as formas sutis de exploração do homem pelo homem vai sendo combatida.

J.Menezes

domingo, 18 de abril de 2010

A quem interessa a cobertura do jornalismo político?

Apesar dos esforços e campanhas dos movimentos sociais, ONGs, da Justiça Eleitoral e da Igreja Católica, não temos garantias ainda de processos eleitorais plenos no Brasil. As denúncias que se tornaram comuns ao longo dos processos eleitorais são "termômetros" do estágio do exercício da democracia no país.Não tem muito tempo tínhamos showsmícios, investimentos assustadores e mal explicados em campanhas, pichações desmoralizantes e bocas de urnas sinistras nas vésperas de eleições.

Se ainda são registrados escândalos políticos, infidelidades partidárias, assistencialismo barato, compra de voto, nepotismo, malversação do dinheiro público e outras tentativas de distorção nos processos eleitorais e da gestão pública honesta, presume-se que muito há ainda por fazer para galgarmos um estágio mais civilizado no tocante aos pleitos eleitorais.

Talvez a questão não esteja relegada apenas à cultura nacional, mas ao pouco tempo de democratização pós-ditadura militar.A midia nacional, dominada por grupos familiares e sempre influenciando decisões políticas mantém ainda hoje um estilo de cobertura do chamado jornalismo político que ainda não se libertou totalmente do oficialismo tradicional.

Perde-se muito tempo nos corredores do Congresso Nacional, das assembléias legislativas ou nas câmaras federais falando de quem vai ser o que, dos "arranjos político-partidários", dos conchavos,das articulações lobistas. Mesmo antes de se cobrar trabalho e apresentação de projetos que possam transformar a sociedade é "mais relevante" falar do que vai ocorrer dali há quatro anos. As demandas sociais que deveriam ser o objeto da legislatura são relegados a segundo plano.As vezes tenho a impressão de que não se fala em outra coisa a não ser do futuro "político" e pouco do projeto presente a ser administrado e executado.

Essa percepção não é apenas regional. Historicamente ela uma constante no Brasil nas hostes do poder central, especialmente com o surgimento da República. Vejamos os exemplos da "Política Café com Leite", das escaramuças do mandonismo local com os coronéis ditando as regras do jogo político e seus terríveis currais eleitorais de manipulação do voto, dos episódios que resultaram no assassinato de Getúlio Vargas e dos motivos que culminaram com a Guerra de Canudos.

A imprensa neste sentido é por demais "generosa". Os conchavos partidários, as composições das agremiações ofuscam o interesse público ou coletivo e muitos jornalistas que aderiram ao colunismo esquecem das causas sociais e entram no jogo dos bastidores meramente politiqueiros.Há uma espécie de glamour que fascina os profissionais de comunicação e eles acabam se acomodando com a "zona de conforto" e com as "futricas" dos espaços de poder.Fico pensando há quem interessa e quantos brasileiros compreendem os textos insossos e gastos pelos chavões do jornalismo político que só interessam a uma parcela privilegiada da população.

Quem sabe os jornalistas não estejam precisando de um choque de realidade para mudar a linguagem na cobertura política e interpretar o jornalismo político como um jornalismo que deve interessar também as classes "C e D", como já está acontecendo com a cobertura da economia que durante muitos anos quebrou a cabeça dos chefes de redação que não sabiam como torná-la mais simples para facilitar o entendimento da população. Joelmir Betting foi um dos primeiros protagonistas dessa metamorfose ficando conhecido como o "Chacrinha do jornalismo econômico".Ora, o que acontece nas decisões dos espaços políticos deveriam obviamente interessar a população, mas a regra do jogo nos bastidores da política é outra. O foco está na atmosfera politiqueira do jogo de poder.

É importante observar a postura dos candidatos, interpretar os discursos de véspera e as propostas. Creio que o próximo pleito é uma oportunidade de "aferir" se houve ou não alguma evolução no quesito "cidadania". É preciso ficar de olho nos "profissionais" ou seja os políticos que se você perguntar qual é a profissão dele, vai reponder - sou vereador, prefeito ou deputado.

Portanto, é preciso ficar atento as propostas e projetos e a capacidade ou possibilidade de execução desse projeto. É que a retórica pode não passar do superficialismo. É importante observar a postura dos candidatos, interpretar os discursos de véspera e as práticas administrativas. Há muitos políticos em todas esferas deslumbrados e soberbos com o poder e com a ascenção social.

É preciso refletir sobre as práticas recentes em gestões ou em atividades legislativas. É preciso refletir sobre as colunas com "as opiniões perspicazes" de quem parece ter bola de cristal para advinhar o "jogo a política".É preciso refletir para que o jornalista não seja um agente de desinformação,o pior pecado de um profissional da comunicação.



J.Menezes
18/04/2010

domingo, 11 de abril de 2010

Armando Nogueira e a intimidade com a palavra

Muito já foi escrito sobre o ciclo da vida. Filósofos, religiosos, os poetas já escreveram milhares de livros sobre o tema. Talvez falar mais sobre o assunto seja uma redundância. Mas não tem jeito, a morte é uma ruptura e quando o personagem é alguém que meditou e discorreu tanto sobre a dinâmica, os mistérios e a beleza da vida, um comichão toma conta da mente e do coração. Precisamos aliviar o incômodo escrevendo, ou melhor, digitando.

Se a utopia é resgatarmos o humano no jornalismo, certamente encontraremos em Armando um dos maiores ícones dessa filosofia. Não precisa conhecer tudo, basta ler um crônica sobre a arte no futebol. Que tal sobre Garrincha o "anjo de pernas tortas". O velho soldado das letras tinha intimidade com as palavras, dormia, sonhava e confabulava com elas. Talvez as novas gerações de jornalistas possam pesquisar um pouco da obra de Nogueira. Num momento em que o jornalismo caminha "perigosamente" para o tecnicismo, repleto de alegorias do espetáculo e negando o humano.

Mesmo ocupando posições de executivo, o veterano jornalista jamais perdeu a leveza ao comentar a cena nacional.Armando viveu as transições ou ciclos do jornalismo brasileiro. Podia falar "de cátedra" dos humores Um deles foi o atentado ao jornalista e político Carlos Lacerda na Rua dos Toneleiros no Rio de Janeiro na década de 1950. Armando foi testemunha ocular do fato que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas. Era um dos últimos jornalistas românticos, sem perder o senso de realidade.

Armando Nogueira contava história e "estórias", desnudava a alma brasileira com os seus textos, em que se deleitava com o idioma de Camões. Criou o telejornal mais famoso do Brasil (Jornal Nacional), foi um cronista esportivo genial e tinha o dom da prosa elegante. Como bem disse o Boni, Nogueira foi um polivalente do jornalismo. O ex-jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira Junior, hoje comentarista esportivo da Globo contou que logo que começou a comentar futebol pediu conselhos a Armando sobre qual seria a melhor forma de comentar.

Armando respondeu que ele(Junior) deveria equilibrado, “criticando sem ofender e elogiando sem bajular”. Nogueira mudou a linguagem do telejornalismo brasileiro que imitava o rádio. Seus dois grandes laboratórios foram o Jornal Nacional, o Globo Repórter e os programas de esporte. Talvez a maior crise no jornalismo tenha sido no episódio do fatídico debate entre os candidatos a presidente em 1989, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Melo, quando respondia pelo jornalismo da maior emissora do país.

A edição de trechos da participação dos dois candidatos foram veiculadas na Globo após os debates e teria prejudicado o candidato do PT no pleito daquele ano. O assunto repercute no Brasil até hoje e é motivo de debates e reflexão nos meios acadêmicos.

Armando Nogueira sempre se defendeu, afirmando que a decisão de editar o debate não partiu dele. Eis aqui a ação do gatekeeper que só confirma o mito da imparcialidade nas empresas jornalísticas. Quem vive no “olho do furacão” dificilmente escapa de episódios fumegantes. Mas Armando superou e tocou a vida e as crônicas. A midia contemporânea brasileira perdeu um de seus poetas e gurus.

J.Menezes
11/04/2010

sábado, 10 de abril de 2010

Futebol biscoito fino

Outro dia me referi aqui aos "meninos da Vila" ou o time do Santos treinado pelo Dorival Junior. Uma equipe "serelepe que se diverte" jogando futebol, vencendo e convencendo. Mas por uma questão de justiça não posso deixar de falar do magistral time do Barcelona. Literalmente "uma equipe dos sonhos".

Quando todos pensavam que o futebol arte havia sido sepultado, eis que surgem Neymar e Messi. Viva os benfeitores da arte no futebol. O craque argentino de 22 anos pode amadurecer ainda mais e atingir o auge lá pelos 27 anos. O que estará fazendo em campo? Os quatro gols marcados contra o Arsenal pela Copa dos Campeões, talvez ainda não expliquem o fenômeno Messi.

O Barça tem Messi com a sua visão de jogo espetacular, equilíbrio, inteligência, oportunismo, arranque e senso coletivo. Com ele, o Barcelona provou que "es posible" conquistar pontos e fãs. O Santos tem Neymar com os seus dribles desconcertantes, "malandragem”, passes perfeitos, alegria e a irreverência dos seus 18 anos. A fantasia dos dois meninos tem proporcionado aos amantes do futebol mais razões para assistir a uma partida de futebol. Se a preocupação é o resultado, creio que o time da Vila Belmiro e o time azul grená irão satisfazer esse desejo.

Em relação à Messi não entendo essa desconfiança dos argentinos em relação ao seu grande jogador O fato de Messi ter sido "forjado" na Espanha não quer dizer que virou espanhol. Acho que os "hermanos" tem ciúmes dos andaluzes. O técnico da seleção portenha chegou a afirmar nesta última semana que se continuar nesse ritmo, “La Pulga”, como Messi é também conhecido na Europa, poderá ser o melhor jogador de todos os tempos.

Sou flamenguista, mas torço pelo futebol “biscoito fino” e sinceramente desejo o Santos como campeão paulista e o Barcelona como campeão espanhol de 2010. Seria um prêmio ao futebol arte e a crença dos seus treinadores na tese de que é possível vencer jogando bonito. No caso do Barcelona os resultados já aparecem e a equipe não deixa de jogar bonito. Um futebol coletivo onde todos tem a chance de mostrar valor. Essa é a diferença entre o chamado "futebol de resultado" com os famosos "brucutus" no meio campo e o futebol arte que triunfa.

O técnico Guardiola montou um time que "joga por música mesmo". Sai um jogador e entra outro no lugar e o rítmo é o mesmo. Futebol bonito, de toques rápidos, envolventes, jogando com técnica e arte, mas de forma objetiva e de frente para o campo adversário. O Barca é uma equipe madura que conta com outros astros já consagrados, o Santos um time de garotos com poucas exceções que está encantando até o fenômeno Ronaldo. Messi é na verdade um patrimônio do futebol e terá seu nome estampado na galeria dos grandes futebolistas da história.

J.Menezes

10/04/2010

As tragédias e o poder público

As catástrofes ocasionadas pelas chuvas não se constituem em fato novo. Lamentamos o sofrimento das vítimas e de suas famílias, mas lamentamos também a falta de investimentos em projetos preventivos. Lamentamos a atitude de políticos mal intencionados que estimulam a permanência de famílias em áreas de risco para capitalizar votos.

Seria muito importante que fosse criada no país uma nova lei que estabelecesse medidas mais rígidas contra construções em áreas de risco. Lamentamos a irresponsabilidade de imobiliárias que no desejo de aumentar lucros planejam e executam projetos em locais inadequados. Sabem que não podem construir casas nas encostas dos morros e mesmo assim constroem Depois da catástrofe no Rio de Janeiro ouvi algumas pessoas dizendo que um dos problemas dos desabamentos é a insistência das pessoas.

A falta de moradias seguras é um sintoma claro da desigualdade social e da má distribuição de renda. Mas entendo que a questão é estrutural, social e cultural. No Brasil o deficit habitacional é histórico.

A história do Brasil durante muito tempo evitou, mas hoje sabemos que a "libertação tardia da escravatura" não resolveu os problemas. Foram empurrados para os morros quando a Princesa Isabel instituiu a Lei Aurea em 1888. Faz ali porque não tem outras opções. Muitos dos moradores de favelas são descendentes de ex-escravos Ora, pergunte a uma pessoa que mora num morro se era um sonho construir um "barraco" num local tão arriscado?

Os barracos e cortiços das cidades grandes, erguidos principalmente nos morros originaram as favelas como conhecemos hoje. Muitos voltaram às fazendas e casas grandes dos seus algozes pois não tinham para onde ir. das vítimas, os escravos. Ficaram perambulando sem emprego, passando fome, doentes, humilhados e sem moradia.

Quando resolvem partir para a clandestinidade são acusados de irresponsabilidade. Estamos no Século XXI e pessoas continuam sofrendo e morrendo por não terem onde morar Não é apenas de reforma agrária que o país necessita, mas também de uma reforma habitacional que faça justiça focada em fatores históricos. Cito apenas um exemplo da história precária da habitação no Brasil que na maioria das vezes é ignorada por letrados e iletrados.

Significa o início do pagamento de uma dívida histórica com a população renegada pelo "status quo" da sociedade brasileira. Projetos como "Minha Casa Minha Vida" são mais do que obrigação dos governos. São negligências assim que estimulam a ação irresponsável de imobiliárias que oferecem e não cumprem o que prometem quando vendem imóveis.Mas irresponsável também foi o Estado que ao longo dos últimos 200 anos não pensou em ajudar os pobres a ter um lugar decente para morar.
Serviços de água, energia elétrica, esgoto, telefone, pavimentação e habitação devem ser encarados como direitos óbvios dos cidadãos.os governos precisam dotar os espaços urbanos das condições básicas de convivência e sobrevivência.

Só investimentos não resolvem, é verdade, é preciso quebrar paradígmas e mudar a cultura Se as cidades estiverem mais preparadas em termos de infraestrutura para enfrentar as pressões da natureza. Os fenômenos naturais como as chuvas torrenciais são inevitáveis, no entanto os efeitos causados podem ser reduzidos ou evitados Os gestores públicos precisam pensar nas chamadas soluções inteligêntes para as cidades do Século XXI que corrijam as distorções.

Dois exemplos recentes mostraram como as ações governamentais podem ser fundamentais e impactar de forma positiva ou negativa num país. Com as cidades mais preparadas e a população mais consciênte e convicta do exercício da cidadania, os estragos podem ser menores. Conscientizando a população sobre ações preventivas como o simples ato de recolher o lixo das ruas para não entupir bueiros.

Para o problema habitacional no país, especialmente para os mais pobres que acabam sendo vítimas de oportunistas. sem respeitar os limites financeiros das pessoas. O ato irresponsável também atinge os governos norte-americanos que não atentaram. Um dos fatores da crise norte-americana foi a dívida dos mutuários e a irreponsabilidade dos bancos privados que financiaram moradias.

É preciso acabar com as atitudes viciadas de negligência na ocupação do espaço público. Posturas assim devem ser encorajadas e repetidas pelos gestores públicos que precisam pensar as cidades com foco no bem-estar do cidadão. O estrago poderia ser pior se uma série de medidas preventivas do ponto de vista do projeto arquitetônico não tivessem sido tomadas. se mostraram eficiêntes no que diz respeito à segurança das moradias. Apesar dos prejuízos e do número de vítimas Um exemplo mais positivo foi o do Chile. Mesmo com a tragédia dos terremotos as cidades de Concepcion e de Santiago.

Não tem mais graça esse filme hediondo e hipócrita. Com cidades mais bem cuidadas não teremos que lamentar e chorar a morte de inocentes. O que não se pode admitir é só lamentar as tragédias e mortes em todo período de chuvas. Que possibilitem orientar e ajudar aos mais pobres a conquista da casa própria. Afinal essa é uma dívida do Estado no Brasil. Mas criar mecanismos legais de abuso na construção irregular, exige também que os governos sejam justos para corrigir questões estruturais.


J.Menezes
10/04/2010