domingo, 11 de abril de 2010

Armando Nogueira e a intimidade com a palavra

Muito já foi escrito sobre o ciclo da vida. Filósofos, religiosos, os poetas já escreveram milhares de livros sobre o tema. Talvez falar mais sobre o assunto seja uma redundância. Mas não tem jeito, a morte é uma ruptura e quando o personagem é alguém que meditou e discorreu tanto sobre a dinâmica, os mistérios e a beleza da vida, um comichão toma conta da mente e do coração. Precisamos aliviar o incômodo escrevendo, ou melhor, digitando.

Se a utopia é resgatarmos o humano no jornalismo, certamente encontraremos em Armando um dos maiores ícones dessa filosofia. Não precisa conhecer tudo, basta ler um crônica sobre a arte no futebol. Que tal sobre Garrincha o "anjo de pernas tortas". O velho soldado das letras tinha intimidade com as palavras, dormia, sonhava e confabulava com elas. Talvez as novas gerações de jornalistas possam pesquisar um pouco da obra de Nogueira. Num momento em que o jornalismo caminha "perigosamente" para o tecnicismo, repleto de alegorias do espetáculo e negando o humano.

Mesmo ocupando posições de executivo, o veterano jornalista jamais perdeu a leveza ao comentar a cena nacional.Armando viveu as transições ou ciclos do jornalismo brasileiro. Podia falar "de cátedra" dos humores Um deles foi o atentado ao jornalista e político Carlos Lacerda na Rua dos Toneleiros no Rio de Janeiro na década de 1950. Armando foi testemunha ocular do fato que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas. Era um dos últimos jornalistas românticos, sem perder o senso de realidade.

Armando Nogueira contava história e "estórias", desnudava a alma brasileira com os seus textos, em que se deleitava com o idioma de Camões. Criou o telejornal mais famoso do Brasil (Jornal Nacional), foi um cronista esportivo genial e tinha o dom da prosa elegante. Como bem disse o Boni, Nogueira foi um polivalente do jornalismo. O ex-jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira Junior, hoje comentarista esportivo da Globo contou que logo que começou a comentar futebol pediu conselhos a Armando sobre qual seria a melhor forma de comentar.

Armando respondeu que ele(Junior) deveria equilibrado, “criticando sem ofender e elogiando sem bajular”. Nogueira mudou a linguagem do telejornalismo brasileiro que imitava o rádio. Seus dois grandes laboratórios foram o Jornal Nacional, o Globo Repórter e os programas de esporte. Talvez a maior crise no jornalismo tenha sido no episódio do fatídico debate entre os candidatos a presidente em 1989, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Melo, quando respondia pelo jornalismo da maior emissora do país.

A edição de trechos da participação dos dois candidatos foram veiculadas na Globo após os debates e teria prejudicado o candidato do PT no pleito daquele ano. O assunto repercute no Brasil até hoje e é motivo de debates e reflexão nos meios acadêmicos.

Armando Nogueira sempre se defendeu, afirmando que a decisão de editar o debate não partiu dele. Eis aqui a ação do gatekeeper que só confirma o mito da imparcialidade nas empresas jornalísticas. Quem vive no “olho do furacão” dificilmente escapa de episódios fumegantes. Mas Armando superou e tocou a vida e as crônicas. A midia contemporânea brasileira perdeu um de seus poetas e gurus.

J.Menezes
11/04/2010

2 comentários:

Will Carvalho disse...

É verdade, a perda foi muito grande... Não sei de outro cronista com a genealidade de Armando Nogueira, vivo. Se persarmos nos que estão mortos serão pouquissimos...

"Nome e Sobrenome de craque"

Teresa Leonel disse...

Jota
Já passei 10 emails pra vc.Tentei o seu celular...preciso saber se vc pode participar da banca de TCC dia 26/04/10 20h30.Aluna de pedagogia.Temátic:telejornal em sala de aula.(objeto estudo>:Tv São Francisco).Estou emJoao Pessoa...não achei outro canal pra falar com vc.Mande retorno poremail com URGENCIA. ABS.TERESA