sexta-feira, 23 de abril de 2010

A cidadania de olho na economia

A campanha da Fraternidade de 2010 toca numa questão preponderante. Afinal de contas para que serve a economia na sociedade capitalista? A chamada economia doméstica ou uma economia que também leve em conta as necessidade das minorias é pouco disseminada na mídia. Na visão tradicional capitalista a economia está muito mais ligada ao mercado e suas leis.

Mas o mercado só existe por causa dos consumidores e nesse aspecto pode se falar hoje de uma economia que influencia as massas, a classe média alta e as elites. Todos consomem e não há pelo menos numa visão imediata nenhum mal em adquirir bens de consumo, inclusive os duráveis, afinal, ter conforto se constitui numa necessidade que todos têm o direito de usufruir. A economia de mercado está focada na produção, nos meios de produção, no estímulo ao consumo, no acúmulo de riqueza e no lucro, nada mais óbvio e há uma sensação clara de que as pessoas agora podem adquirir produtos de consumo durável, ter cartão de crédito, cheque especial e etc.

Nem mesmo a crise do ano passado conseguiu inibir a capacidade e o poder de compra dos brasileiros. Os bancos também “não economizaram” na oferta de créditos. Os lucros anuais dos bancos mostram que “vender dinheiro é um negócio mais que lucrativo”. Todos os anos a briga é para saber quem superou quem nos lucros e a quantidade de zeros que aumentaram nas cifras. Nunca houve tanto crédito no país, mas a questão não está na facilidade de contrair o crédito, mas de pagar os juros absurdos do mercado.

Os bancos lucram e o consumidor deve cada vez mais. Apesar das previsões nem sempre animadoras e o governo injetou dinheiro e criou outros incentivos como a isenção do IPI para o mercado de automóveis e o de eletrodomésticos. No caso do Brasil, há um aumento flagrante de consumo pelas classes “C, D e, como resultado dos programas sociais e de uma maior estabilização na oferta de empregos”.
A propagação dos produtos pela indústria cultural incrementou ainda mais os mercados globais.

É que a globalização aproximou os mercados produtores dos consumidores. Nunca houve tanto crédito no país, mas a questão não está na facilidade de contrair o crédito, mas de pagar os juros absurdos do mercado. O consumo é inevitável, mas como diz o ditado, "é preciso consumir com moderação" e evitar os vícios do “mundo maravilhoso das compras”que podem não ter mais cura. O resultado é a bancarrota financeira no final do mês. Mas o mercado cria também uma dependência perigosa nos consumidores. Consumo maior, implica também dívida, incapacidade de poder de compra e impossibilidade de crédito.

A Campanha da Fraternidade chama a atenção para questões que até agora haviam sido ignoradas e por motivos compreensíveis. O mercado não pensa em outra coisa a não ser vender e essa é a sua natureza da mercantilização. Um ponto que acho crucial é o fato de que nem todo mundo pode manter um nível de consumo constante se não tiver renda, controle e estabilidade financeira suficiente para comprar. O problema é que a sensação que a mídia dissemina através de poderosas campanhas de marketing é que todos podem consumir à vontade e sem limites. O resultado disso é uma frustração nos consumidores menos avisados ou viciados no consumo que posteriormente às compras não tem como honrar os débitos e entra numa bola de neve.

A Campanha se bem disseminada e compreendida pode suscitar um debate nacional que alerte e ensine as pessoas a consumir com responsabilidade. Vejamos os lucros dos bancos. Todos os anos é recorde em cima de recorde. Nunca houve tanto crédito no país, mas a questão não está na facilidade de contrair o crédito, mas de pagar os juros absurdos do mercado. Os bancos lucram e o consumidor deve cada vez mais.
O consumo é inevitável, mas como diz o ditado, "é preciso consumir com moderação”! e vícios que podem não ter mais cura. A História mostra desde os tempos de Adam Smith, que a concentração de riquezas nas mãos de poucos, é uma tendência secular que as teses filosóficas, estudos sociológicos e formas de governo não conseguiram evitar.

Os liberais pressionaram e insistiram tanto na idéia de um mercado totalmente livre que o Estado quase ficou sem função ou refém do pensamento liberal. Hoje é perceptível a necessária presença do Estado para regular a economia e impor certos limites que são essenciais para a proteção dos cidadãos. Até hoje, uma sociedade de livre mercado não foi capaz de promover ou de cumprir com as promessas de uma convivência justa.

As teses que ampliaram o poder da lógica capitalista receberam ajustes, mas não mudaram muito em sua essência desde os séculos XVIII e XIX com o “boom” da Revolução Industrial e com a distribuição de produtos nos mercados europeu, asiático e na América do Sul. "Deixe fazer, deixe passar”, eis as palavras de ordem que até hoje desafiam as relações entre os detentores dos capitais e o Estado que estuda uma nova forma de “frear” a ação via de regra ousada e descontrolada do capitalismo.
O crescimento da economia de um país é um fato animador, especialmente quando isso representa oferta de mais emprego e renda e arrecadação para o Estado investir em projetos sociais que melhorem a vida da população. Mas crescimento por crescimento sem justiça social e com o aumento do abismo entre ricos e pobres é algo ilusório e perverso. É necessário, pois muita cautela para não ficar refém dos bancos e dos hipermercados. Creio que a CNBB foi muito feliz na escolha do tema.

As gestões responsáveis dos governos em todos os níveis, a diligência do sistema judiciário, os investimentos na educação e o despertar para a cidadania, podem ser preponderantes para um consumo responsável, afinal, dizer que as leis da economia vão mudar o mundo é algo distante da realidade, especialmente por conta dos aspectos já enumerados aqui. Mas na medida em que as sociedades vão se conscientizando do valor da cidadania, mesmo que lentamente as coisas tendem a evoluir e as formas sutis de exploração do homem pelo homem vai sendo combatida.

J.Menezes

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