domingo, 18 de abril de 2010

A quem interessa a cobertura do jornalismo político?

Apesar dos esforços e campanhas dos movimentos sociais, ONGs, da Justiça Eleitoral e da Igreja Católica, não temos garantias ainda de processos eleitorais plenos no Brasil. As denúncias que se tornaram comuns ao longo dos processos eleitorais são "termômetros" do estágio do exercício da democracia no país.Não tem muito tempo tínhamos showsmícios, investimentos assustadores e mal explicados em campanhas, pichações desmoralizantes e bocas de urnas sinistras nas vésperas de eleições.

Se ainda são registrados escândalos políticos, infidelidades partidárias, assistencialismo barato, compra de voto, nepotismo, malversação do dinheiro público e outras tentativas de distorção nos processos eleitorais e da gestão pública honesta, presume-se que muito há ainda por fazer para galgarmos um estágio mais civilizado no tocante aos pleitos eleitorais.

Talvez a questão não esteja relegada apenas à cultura nacional, mas ao pouco tempo de democratização pós-ditadura militar.A midia nacional, dominada por grupos familiares e sempre influenciando decisões políticas mantém ainda hoje um estilo de cobertura do chamado jornalismo político que ainda não se libertou totalmente do oficialismo tradicional.

Perde-se muito tempo nos corredores do Congresso Nacional, das assembléias legislativas ou nas câmaras federais falando de quem vai ser o que, dos "arranjos político-partidários", dos conchavos,das articulações lobistas. Mesmo antes de se cobrar trabalho e apresentação de projetos que possam transformar a sociedade é "mais relevante" falar do que vai ocorrer dali há quatro anos. As demandas sociais que deveriam ser o objeto da legislatura são relegados a segundo plano.As vezes tenho a impressão de que não se fala em outra coisa a não ser do futuro "político" e pouco do projeto presente a ser administrado e executado.

Essa percepção não é apenas regional. Historicamente ela uma constante no Brasil nas hostes do poder central, especialmente com o surgimento da República. Vejamos os exemplos da "Política Café com Leite", das escaramuças do mandonismo local com os coronéis ditando as regras do jogo político e seus terríveis currais eleitorais de manipulação do voto, dos episódios que resultaram no assassinato de Getúlio Vargas e dos motivos que culminaram com a Guerra de Canudos.

A imprensa neste sentido é por demais "generosa". Os conchavos partidários, as composições das agremiações ofuscam o interesse público ou coletivo e muitos jornalistas que aderiram ao colunismo esquecem das causas sociais e entram no jogo dos bastidores meramente politiqueiros.Há uma espécie de glamour que fascina os profissionais de comunicação e eles acabam se acomodando com a "zona de conforto" e com as "futricas" dos espaços de poder.Fico pensando há quem interessa e quantos brasileiros compreendem os textos insossos e gastos pelos chavões do jornalismo político que só interessam a uma parcela privilegiada da população.

Quem sabe os jornalistas não estejam precisando de um choque de realidade para mudar a linguagem na cobertura política e interpretar o jornalismo político como um jornalismo que deve interessar também as classes "C e D", como já está acontecendo com a cobertura da economia que durante muitos anos quebrou a cabeça dos chefes de redação que não sabiam como torná-la mais simples para facilitar o entendimento da população. Joelmir Betting foi um dos primeiros protagonistas dessa metamorfose ficando conhecido como o "Chacrinha do jornalismo econômico".Ora, o que acontece nas decisões dos espaços políticos deveriam obviamente interessar a população, mas a regra do jogo nos bastidores da política é outra. O foco está na atmosfera politiqueira do jogo de poder.

É importante observar a postura dos candidatos, interpretar os discursos de véspera e as propostas. Creio que o próximo pleito é uma oportunidade de "aferir" se houve ou não alguma evolução no quesito "cidadania". É preciso ficar de olho nos "profissionais" ou seja os políticos que se você perguntar qual é a profissão dele, vai reponder - sou vereador, prefeito ou deputado.

Portanto, é preciso ficar atento as propostas e projetos e a capacidade ou possibilidade de execução desse projeto. É que a retórica pode não passar do superficialismo. É importante observar a postura dos candidatos, interpretar os discursos de véspera e as práticas administrativas. Há muitos políticos em todas esferas deslumbrados e soberbos com o poder e com a ascenção social.

É preciso refletir sobre as práticas recentes em gestões ou em atividades legislativas. É preciso refletir sobre as colunas com "as opiniões perspicazes" de quem parece ter bola de cristal para advinhar o "jogo a política".É preciso refletir para que o jornalista não seja um agente de desinformação,o pior pecado de um profissional da comunicação.



J.Menezes
18/04/2010

1 comentários:

Unknown disse...

Boa Jotinha,
Esse texto toca num ponto fulcral do jornalismo presente: a cobertuta presidencial de 2010. O mapa está traçado - a mídia brasileira concentrada na mão de 4 famílias,essas por sua vez aderiram a candidatura Serra (numa olhadela nas manchetes dos jornais comprova-se isso); Do outro lado, o PT com o crédito de 8 anos de governação bem sucedida e a blogosfera de esquerda. Vai ser "sangue" midiático, mas espero, vivamente que a população tenha direito a informação.
Abraço Jota!