segunda-feira, 21 de abril de 2008

CRÔNICA: ÔNIBUS


Brasileiro é louco por carro diz o comercial de TV. É verdade, a frase já virou até clichê. Mas também por ônibus, por espontânea pressão, e às vezes até por opção.

Vejamos: o ônibus é a salvação dos sem carro. É sempre a dor de cabeça dos ansiosos quando o "monstrengo" teima em não chegar ao ponto no horário de costume. O passageiro agoniza e o "tic" nervoso e tão inevitável quanto à volta incessante dos ponteiros do relógio.

O ônibus é o caos da segunda feira, mas o abrigo temporário do mal humorado, da moça com TPM, do bla, bla, bla do hipocondríaco. O ônibus está entre a esperança e o desespero do "homo urbanus".

O ônibus ainda continua sendo uma das melhores desculpas para o inconfundível atrasadinho que ao cruzar com o patrão na recepção da empresa dispara: desculpe, foi ele, o "buzú".

O ônibus é a agonia do trabalhador, mas o transporte perfeito depois de uma carona frustrada. É o bem e o mal necessários, o confidente silencioso para os sentimentos mais secretos.

No ônibus se vê de tudo e em tempo real. Desde os arroubos e as tagarelices dos adolescentes na alegria do encontro, até ao acesso de fúria do rebelde "com causa" que o transforma em sparing para se vingar do mundo "injusto".

O ônibus é a linha tênue entre a paranóia do dia a dia e a busca contínua e inglória pela sobrevivência. É um ícone do modus vivendi da contemporaneidade. É um dos símbolos dos "ismos". Do capitalismo e do socialismo.

Tem lotação para todos os gostos: leito, semi-leito, executivo, semi-executivo, "baby bus" e de andar. Tem também o pinga, popular e folclórico: pode chamá-lo também de "catatau". Neste vai gente, bicho, muamba e bugiganga. O pinga para tantas vezes durante o percurso que o câmbio da máquina fica lerdo e o motorista "pirado".

A luta no pinga é saber quem vai ganhar a cadeira da janela. Quem tiver mais sorte, fica livre da sofreguidão, da "mão boba", dos pisões, cotoveladas e do desodorante vencido. Será que a expressão "corredor da morte" não surgiu no pinga?
O ônibus é uma fonte viva de Histórias e "estórias". Preste atenção no papo do malandro, no diálogo desconexo dos bêbados, nos discursos messiânicos dos fanáticos, nas intermináveis discussões sobre futebol, política ou big brother!

No ônibus é assim: de solavanco em solavanco o passageiro vai "ruminando seus pensamentos", ignorando a paisagem que já viu ontem. Na cadeira ao lado a "teen" não pára de repetir para a colega com quem vai ficar na festa de haloween.

O ônibus também é cultura, mas também "acultura" e o passageiro precisa aprender a arte da paciência. A expressão "o trem da história", poderia ser substituída para o "o ônibus da história".

No percurso há dois momentos gloriosos: primeiro quando o transporte sai do ponto de parada, segundo quando chega ao destino. O resto é luta. Luta contra si mesmo e contra a vontade alheia.

É um situação de dependência, pois a liberdade no ônibus está apenas no pensamento. Dependo do motorista, dependo do folgado que cruza os braços no meio do corredor, dependo do cobrador que avisa ou não "ao motor" que ainda estou subindo ou que ainda não desci, dependo do solidário passageiro que vai pedir ou não o pesado fardo que carrego em pé.

Dependo até do clima: se o dia tiver calorento posso chegar amarrotado ao trabalho, posso perder o vale transporte em meio à confusão. Posso perder a prova, a carteira, o compromisso, só não posso perder o bom humor, afinal: amanhã começa tudo de novo.

J.Menezes

10 comentários:

Anônimo disse...

É JÁ DEI ESSA DESCULPA DE CHEGAR ATRASADO, RSRSRS
PEGAR CARONA É BOM, MAS ´NÃO É RICO DE DIVERSIDADES COMO NO ÔNIBUS, GENTE ENTRANDO E SAINDO, TUMULTO, CONVERSAS,
EU GOSTO, O RUIM SÓ É A DEMORA OU A PESSOA CHATA OU FEDORENTA QUE SENTA DO SEU LADO.

Anônimo disse...

mais uma crônica clássica de jota...

o ônibus ocupa um lugar tão central na dinâmica da sociedade brasileira contemporânea que uma das manifestações populares mais marcantes do início deste século teve como mote o aumento da passagem do velho e bom buzu.

em 2003, 200 mil pessoas, na maioria estudantes do segundo grau, foram à ruas se manifestar contra o aumento da passagem. a cidade simplesmente parou durante cerca de duas semanas.

a revolta do buzu, como ficou conhecido aquele movimento, influenciou a revolta da matraca, em santa catarina, uma outra mobilização que teve um forte impacto social.

querendo ou não, é o buzu, literalmente, que tem convidado a população a sair da apatia. da mesma forma que, contraditoriamente, também leva à apatia. tudo depende do uso que fazemos deste meio de transporte.

abraços, luís osete

Anônimo disse...

só um adendo: faltou acrescentar o nome da cidade que protagonizou a revolta do buzu: salvador-ba.

Anônimo disse...

Cara seu blog está excelente, além do designe leve e agradável. Tem o principal - conteúdo de qualidade!

um abraço.


Cidiney

Mário Pires disse...

heheh... verdade Jota. Excelente o artigo. "Buzú pra quem não tem besteira", diz uma música baiana... rsrs... Assim que puder dê uma "xêgada" no meu blog. Não é tão bom quanto o seu, mas uma visitinha sua será prazerosa. Grande abraço.

Anônimo disse...

po seu blog ta massa
valeu cicero(vigia da bari lembra?)

Anônimo disse...

Eita,esse menino bem à vontade com as ferramentas do mundo virtual rsrsrsr Nem de longe,lembra o meu velho colega tecnofóbico,doidinho com a chegada do news maker e de outros tantos programas q tinhamos q engolir guela a dentr.Nem bem dominávamos um,chegava outro ...Gostei de vê mesmo e amei a crônica do ônibus.Vou virar leitora ,ou melhor...vou visitá-lo sempre ,né assim q se fala?rsrsrsrsrs.Vc é um grande cara!Caríssimo!!!
Sibelle Fonseca

Claudeci Andrade disse...

TREINAMENTO SOBRE RODAS

Claudeci Ferreira de Andrade

Começou uma movimentação já bastante vivenciada no ponto do ônibus para a cidade de Senador Canedo, dentro do Terminal Novo Mundo, às 17h. Os que estavam saboreando sorvete trataram de consumi-lo rapidamente, quem comia espetinho fez o mesmo. Levantei-me depressa do pé da grade divisória, que ficava dentro do terminal, pois estava tão cansado que até me dispus a levar algumas cotoveladas em troca de um assento. Que pena, só cotoveladas, as cadeiras já foram ocupadas! Agora como um saco de pancadas para treinamento de boxeadores, levei pontapés, também. Ainda no "bolo de massa compacta", observei um cidadão dominado pelo espírito desportista. Era um jovem que resolveu continuar com seu sorvete empunhado, apenas o levantou para não esfregá-lo em ninguém, parecia um atleta conduzindo a Tocha Olímpica; foi abrindo caminho e então aproveitei o vácuo! O sorvete seu derretia rapidamente e visto que não queria perder uma só gota, sequer, do caldo delicioso que escorria pela sua mão, destarte, resolveu abaixar o braço repetidas vezes para lambê-la, trocava de mão e fazia o mesmo. Pensei: este tipo de flexão de braço é praticado e recomendado nas melhores academias, deve balancear as calorias ingeridas do sorvete! Desta forma, entramos no veículo. Logo na curva de saída do terminal, vi o jovem jogar o resto do sorvete pela janela, porque precisava das duas mãos para se segurar firmemente. O ônibus foi manobrado com alta velocidade para um lado e nós fomos jogados para o outro. Para mim, agora, o jovem tornou-se um Halterofilista, levantando o seus, mais ou menos, oitenta quilogramas de massa corporal.
Depois de dez minutos de viagem, começou um chuvisco, todos os passageiros das janelas levantaram-se para fechar os vidros, assim, num movimento harmonioso, como uma equipe de nado sincronizado. Dentro da nave, o ar ficou grosso e pesado, mas, talvez daqui, sairão alguns bons mergulhadores, aqueles que conseguirem sobreviver com baixa taxa de oxigênio e por cima, exercitando-se fortemente. Lá da frente, um atleta de tiro ao alvo resolveu dá o “tiro” da misericórdia, ao lado do motorista, antes da catraca, ele começou sorrir debochadamente. Logo a onda do riso foi andando para o fundão. Parecia uma competição de gargalhadas. Não demorou muito para alguém assumir o papel de treinador e gritar:
— Respirem fundo para acabar logo o aroma.
A chuva passou, ouvi uma sinfonia de vozes fracas de sufocados. Pareciam estar longe:
— Abre logo os vidros se não vamos morrer! – eram as vozes dos que estavam no corredor da morte.
Então a equipe sincronizada levantou os braços de uma só vez e abriu as janelas. Eu, maratonista há muitos anos, perguntei-me. Quais desses tipos de exercícios são ideais para mim? Olhei para a tripulação ninguém estava quieto na academia ambulante. Era um quebra-molas que nos fazia pular, ora uma curva acentuada que nos empurrava para os lados, ora uma depressão asfáltica que nos forçava outras flexões de pernas, ora uma acelerada, uma freada brusca...
O segredo, para nosso sucesso naquela malhação, consistia apenas em fazer resistência a força da inércia. Estávamos quase chegando à Morada do Morro, quando escutei o motorista fala que estava atrasado, foi aí, lembrei que sempre tive que correr para viajar nos ônibus que quase sempre estão saindo. Somando essas corridinhas já se foram muitos quilômetros neste mês. Porém, estava relaxado e feliz porque teria massagem nas pernas por mais três minutos consecutivo. A senhora que se esfregava em mim até aqui, continuaria me esfregando, nas pernas, sua sacola áspera e pesada. Que “pena”! Desfalquei a comitiva no décimo ponto.

Anônimo disse...

Nossa gostei muito desse texto tenho 12 anos e fiz um trabalho com esse texto!

muito obrigado quem escreveu esse texto!

Anônimo disse...

Adorei
Parabens