domingo, 18 de janeiro de 2009

O SONHO DE OBAMA


"I Have a Dream", o sonho de Martin Luther King se materializou. Naquela tarde agitada de 1964 em Oslo, ao receber o Prêmio Nobel da Paz, quando o grito antológico do líder negro norte-americano ecoou pela América e reverberou no mundo, anunciando que haveria um novo tempo em que brancos e negros caminhariam de mãos dadas por um mundo melhor. A vitória de Barak Obama Houssain Jr. é mais que uma surpresa, simboliza uma mudança estrutural, conceitual e ideológica na históriade um país que se orgulhava de falar em liberdade, mas não conseguia traduzir esse conceito plenamente. O choro do Senador veterano Jessé Jackson, após o resultado da eleição, foi um desabafo de quem carrega nos ombros, o fardo da condição negra nos Estados Unidos e se depara com um fato histórico antológico.

Fico imaginando o filme que passou na cabeça de Jackson, especialmente entre os anos de 1950 e 1980, quando vários movimentos sociais exigiam o cumprimento dos direitos civis, o exercício da liberdade e o combate a leis absurdas como a proibição do casamento e das uniões inter-raciais que por ironia do destino, geraram Barak Obama. Jackson deve ter pensado, "vivi para contar". Com a vitória do advogado negro, a história, dá um "tapa de pelica" no tradicionalismo Yanque. Não foram poucos os estadunidenses que repetiram de forma uníssona o mesmo discurso: "jamais imaginei que um negro pudesse ser presidente dos Estados Unidos".

A vitória de Obama tem vários significados. Representa a quebra de paradigmas, de preconceitos, cria um novo ciclo na história dos Estados Unidos, muda à face não só de uma hegemonia caucasiana do poder, mas sinalizam transformações de ordem social, econômica, política e cultural. A maioria dos democratas no Congresso Nacional, o apoio incondicional fora dos Estados Unidos demonstraram que Obama era um candidato de consenso, unindo brancos de descendência européia, negros, índios, asiáticos e latinos, etnias formadoras do "caldeirão cultural" do país. O consenso ficou claro na fala do adversário JonhMaCcain ao se referir ao resultado das eleições: "Ele é agora o meu presidente".
Há uma percepção clara no mundo de que as populações não querem mais suportar abusos de poder. Não se trata de uma questão de intolerância, mas de amadurecimento civilizatório. Para compreender o que isso significa, voltemos ao tempo da intolerância racial. Envolto em campanhas segregacionistas que explodiram na Guerra da Secessão, no Século XIX e mais tarde nos anos de 1960 com a ação radical da Ku kluxklan e a reação dos movimentos: Pantera Negra, Black Power, Malcolm X e de Martin Luther King os Estados Unidos se rendem à realidade e elegem um negro para o cargo máximo de poder no país.

Antes, essa possibilidade, estava sempre ligada a uma filosofia conspiratória que poderia render a Hollywood um longa metragem de sucesso mundial. Estava relegada a uma história de ficção, ao campo das hipóteses. Ocorre que, sem nos darmos conta à história mostra que não é tão previsível como demonstram algumas teorias e a subjetividade da ficção pode se transformar em realidade.

Para quem acredita em questões metafísicas a vitória de Obama parece atender a esse apelo que a vã filosofia ou as leis da política não explicam. Obama surge como "o Salvador da Pátria", num momento em que os Estados Unidos vivem um "inferno astral" com uma crise econômica que parece ainda mais séria do que a de 1929, corroborada com a desastrosa administração de George W. Bush, sua política beligerante que o fez esquecer dos problemas internos do país em nome de uma "síndrome da cruzada contemporânea".

Internamente os Estados Unidos capitulou com a crise imobiliária e a quebra dos bancos, com o endividamento das famílias, com a decadência do sistema de saúde, com a redução da demanda energética e os altos custos da Guerra do Iraque. O presidente terá que resolver outras questões complexas como a cultura punitiva do seu país que mantém uma maioria de negros e descendentes nos presídios, representando a maior população carcerária do mundo. A velha máxima popular afirma que "é nas crises que surgem as melhores oportunidades". Se for verdade, os espiritualistas tem motivos de sobra para acreditar que o poder nas mãos de Obama não é obra do acaso, mas de uma profecia que está sendo cumprida. Obama não pode falhar.
O que se espera é saber como o presidente eleito vai tirar o país do imbróglio deixado por Bush e dar um novo direcionamento positivo ao mundo. Aliás, ele já respondeu a esse questionamento com esperança ao afirmar no discurso da vitória, que "O caminho vai ser longo e não atingiremos nossos objetivos em um ano, nem mesmo em um mandato. Eu nunca estive mais esperançoso de que estou esta noite. Eu prometo a vocês, nós, como povo, chegaremos lá". Por enquanto Obama também não deixou claro como será sua política externa na resolução de questões conflitantes como Guantánamo, Paquistão, Irã,Venezuela e Colômbia. Não esqueçamos que os EUA não deixam a sua liderança, inclusive bélica no mundo com a crise.

Não será mais surpresa se o novo presidente dos Estados Unidos conseguir lograr êxito nos seus objetivos, mas certamente o fato do país ter escolhido um presidente mulato, mostra uma mudança histórica,(só comparável recentemente à queda do muro de Berlim) e a capacidade dos homens de renovar esperanças, transformar conjunturas, vislumbrar o novo e influenciar mentes e corações em torno de um ideal. Nesta terça-feira quando sentar na cadeira de Presidente dos EUA, Obama certamente vai refletir sobre isso.

J.Menezes

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