domingo, 16 de março de 2008

POESIA E "CAUSOS"



Vou vortá bem satisfeito,
A viagem não perdí
E vou falá com respeito
Sobre uma coisa que eu ví,
Eu nunca gostei do enredo
Mas vou contar um segredo
E sei que o povo combina,
Existe aqui um pobrema
Sobre este amoroso tema
Juazêro e Petrolina

É coisa bastante certa
Que com relação ao amô
Só faz grande descoberta
Quem é bom pesquisadô;
Vocês quera descurpá,
Mas o bardo populá
Patativa do Assaré
Vai já falá pra vocês
De uma coisa que tarvez
Ninguém tenha dado fé.

Aqui na bêra do rio
Tem uma dô que consome,
Vejo a verdade e confio
Ví que o Juazêro é home
E Petrolina é muiê.
Ví que o Juazêro qué
Com Petrolina casá,
Porém corre um grande risco,
As águas do São Francisco
Não deixa os dois se abraça.

Tem um riso feiticêro
A linda pernambucana
E gosta do Juazêro
Moço da terra baiana,
Vejo tudo e tô ciênte
Que o que ele sente e ela sente
Mas esperança não tem
De satisfazê o desejo
Apenas envia beijo
Pela brisa que vai e vem.

Juazêro vai passando
Com a arma apaixonada
Do outro lado reparando
Para sua namorada
E Petrolina conhece
E a mesma paixão padece
O namoro não esconde
Lá do outro lado do rio
Juazêro da picio
E Petrolina responde.

Que seja seca ou inverno
Nesta terra nordestina,
Tem sempre um amô eterno
Juazêro e Petrolina
Sei que é firme esse namoro,
Porém existe um agôro,
Um azá, um aperreio,
Ele do lado de lá,
Ela do lado de cá
E o rio a roncá no meio.

Juazêro e Petrolina
De amô vive ardendo em brasa
Pois é muito triste a sina
De quem namora e não casa,
Quando o rio dá enchente,
Mas os namorado sente,
Um de lá, outro de cá
Cada qual faz sua quêxa
Cronta o rio que não dêxa
O sonho realizá.

Juazêro esse baiano
Moço, forte e destemido
De realizá seu prano
Já veve desiludido
Com a arma apaixonada
Óia para a namorada
Mas é grande o sofrimento
Pois não pode sê isposo
Devido o rio orguioso
Impatá o casamento.

Inquanto descê nas água
bascuio, barcêro e cisco
Causando paixão e mágua
Este rio São Francisco
Capricho da natureza,
Com a sua correnteza
Neste baruio maluco
Toda noite e todo dia
Não será sogra a Bahia
E nem o sogro o Pernambuco.

Se oiando de face a face
Petrolina o seu querido
Não pode fazê o inlace
Pruqê o rio intrometido
Do seu leito nunca sai,
É um suspiro que vai
E outro suspiro que vem
E nesta sentença crua
O namoro continua
Por século sem fim amem.


Essa poesia é do Patativa do Assaré.

Foi recitada pelo autor por ocasião do Segundo Festival de Violeiros de Petrolina.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela postagem. Sou advogado no Rio de Janeiro e estive em Petrolina há aproximadamente um ano. Voltei a esta cidade em dezembro passado. Fiquei bastante encantado com a cidade, Juazeiro-Petrolina. A relação Juazeiro-Petrolina é como a relação luso-brasileira. Uma só cidade, um só país. Depois da primeira visita, pesquisei e encontrei entre músicas e poesias, verdadeiras pérolas de sabedoria, tudo envolvendo o nome da cidade e do lindo rio São Francisco. Estarei atento às novidades do blog e gostaria de saber mais sobre os eventos culturais e o congresso dos violeiros. Grande Abraço e mais uma vez, PARABÉNS.

Andréia Nunes disse...

Parabéns Jota! O blog está massa!