terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

BAGDÁ



Há brilho incessante no teu céu milenar
Não são astros incandescentes, são mísseis bagdá

Raios fulmejantes cortam teu céu, espessa fumaça, sangue e lágrimas inundam o velho solo, palcos de tantas batalhas onde repousam inerte as belas mesquitas

Na tua paisagem surreal, o sinistro:fogo que arde sem cessar e enfeia o ocaso na planície árida

Chamas ardentes sob tuas abóbodas nuas contradiz o espírito de luz mergulhado em dor

O silêncio cortante e o aviso sibilar das sirenes, anunciam Bagdá, os ataques em série e a tragédia anunciada

A trégua é fugaz, dura apenas o tempo de contar as baixas, de lamentar os mortos, de contemplar absorto, o crespúsculo precoce da vida

Oxalá Bagdá que nunca mais o teu povo perplexo precise ouvir o temível aviso das sirenes

Que jamais tenha que ouvir os estalidos das baterias anti-aéreas, a esperança ilusória de que os projetéis atinjam alvos imaginários em uma outra dimensão do universo

Avança soldado, tomai posição, mira no alvo, ignora a vida que está alem da trincheira e dispara

A vida ceifada poderia ser a tua guerreiro do deserto, mas atiraste primeiro nos solos do Iraque e ao contrário do soldado abatido, poderá viver e ter pesadelos acordado ou em sono profundo

Sede, febre, tiros, gritos, ruídos, voz de comando, medo. No caos da guerra é morrer ou matar, é a lei da batalha Bagdá

Milhões de vezes vistes o brilho da espada, ora dos vossos soberanos, outras vezes do conquistador ou dos conquistados, agora Bagdá revive o teu inferno de Danthe

Do que restou das sacadas assiste impotente a destruição e o neo martírio do povo

Dente por dente, olho por olho. Para quem serve tua lei Hamurabí?

Numa sociedade históricamente tão desigual e objeto de desejos inconfessáveis e insanos de tiranos. O que ainda estará por trás das garras da águia Bagdá? Por quanto tempo ouvirá os ecos tristes da dor? Até quando vai contar histórias de guerra?

Foste aurora da civilização, berço de sábios. Em tuas terras abrigaste o patriarca do cristianismo. Que querem agora de ti cidade-martir?

Bagdá vai se erguer de novo. Tâmaras anunciam o renascer
Os raros pontos verdes na imensidão árida voltaram a florescer
Há esperança de que as águas do Tigre e do Eufrates jamais voltem a ser manchadas de sangue
Que as palmeiras não precisem silenciar suas copas num protesto de dor
Que a cidade secular jamais volta a escrever com sangue a história do seu povo

Que o ódio e as imagens do horror nunca mais sujem de fuligem a doce lembrança da Bagdá de mil e uma noites, que embalaram o sono e os sonhos de nossas crianças.



J. Menezes

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